Há
oito anos atrás, no longínquo abril de 2005, uma desgraça aconteceu. Não,
Marvin, não é o que você está pensando. Joseph Alois Ratzinger tornou-se o papa
Bento XVI.
Eu
era uma católica esperançosa, que acreditava na Igreja e nas pessoas, e fiquei
feliz em ver aquele cara inteligente se tornando Papa. Era, enfim, uma idiota,
como todo adolescente.
Pois
é, um monte de coisa acontecendo e eu lendo Harry Potter, e preocupada com o
Papa e o terceirão. O mundo dá voltas mesmo. Mas vamos lá, foco.
Joseph
Alois Ratzinger nasceu com esse nome pomposo em Marktl am Inn,
estado da Baviera, Alemanha, num sábado santo, 16 de abril de 1927, como ele
mesmo cita em seu livro Milestones:
Memórias.
“[...] ser a
primeira pessoa a ser batizada na Água Nova da Páscoa era visto como um ato
muito significativo por parte da Providência. Sempre me enchi de sentimentos de
gratidão por ter sido imerso no Mistério Pascal desta maneira... quanto mais o
reflito, tanto mais me parece apropriado à natureza de nossa vida humana: ainda
esperamos a Páscoa definitiva, ainda não estamos na plenitude da luz, mas
caminhamos na sua direção, cheios de confiança.”
casa em Marktl am Inn, onde Ratzinger nasceu
Filho
de um policial, Joseph se mudou para Hufschlag, também na Baviera, aos 10 anos,
após o pai se aposentar. “Dizer o que
significa cidade natal não é fácil. Como policial de zona rural, meu pai era
transferido com frequência”. O pai de Ratzinger era uma massa de manobra em
pleno Reich, como tantos; declarava-se contra o nazismo. Um primo de Joseph,
com Síndrome de Down, foi morto pelo regime nazista aos 14 anos de idade. A mãe
do Papa emérito era austríaca. Eles não eram miseráveis, mas pobres, e tiveram
muito sacrifício para fazer com que todos os filhos pudessem estudar.
Joseph (esq.), o irmão, Georg, a mãe, Maria, a irmã, Maria, e o pai, Josef, em 1938.
Joseph
queria ser padre, como o irmão mais velho, Georg Ratzinger. Joseph entrou para
o seminário em 1939, com apenas 12 anos. Em 1943, com 16, auge da Guerra, foi incorporado
ao Serviço Militar obrigatório da Alemanha Nazista, numa divisão da Wehrmacht,
encarregada da bateria de defesa antiaérea da fábrica da BMW, nos arredores de Munique.
Foi dispensado um ano depois, e enviado a um campo de trabalhos forçados em Burgenland,
tripla fronteira da Áustria, Hungria e Checoslováquia, depois, destinado ao quartel
de infantaria em Traustein – mesma cidade de seu seminário – de onde Ratzinger
desertou tempo depois.
Com 14 anos, integrante do exército nazista
Com
a derrota alemã, em 1945, Ratzinger é preso e enviado ao campo aliado de
concentração em Bad Aibling, e liberto dois meses após sua prisão, já com 18
anos.
Após
o caos da guerra, Ratzinger consegue sua ordenação religiosa, em 29 de junho de
1951, com seu irmão George. Iniciou sua carreira de professor na Escola
Superior de Filosofia e Teologia de Freising, em 1952, lecionando Teologia
Dogmática e Fundamental. Em 1953, obteve seu doutorado em Teologia com a Tese “Povo
e casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. Obteve habilitação
ara docência com a dissertação “A teologia da história em São Boaventura”.
Em 1952
Lecionou
em Bonn, Münster e Tubinga. Em 1960, assumiu a cadeira de Dogmática e História
do dogma na Universidade de Ratisbona, onde foi Vice-Reitor.
No
Segundo Concílio Vaticano (1962-1965), foi Ratzinger quem apresentou a proposta
da realização da Missa no idioma local, em vez do latim. Em 1972, com os teólogos,
Hans Urs Von Balthasar e Henri de Lubac, fundou a revista Communio, a respeito
da crise teológica pela qual passava a Igreja Católica desde o segundo Concílio
Vaticano.
Foi
nomeado arcebispo de Munique e Freising em 1977, e elevado a Cardeal três meses
depois. Em 1981, foi nomeado prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé,
cargo que manteve ate sua eleição como Papa.
Em 1971
Com o arcebispo ortodoxo Wladimir Dimitrowskij, em 1979
Ratzinger
possui OITO doutorados Honoris Causa, um
pelos EUA, dois pelo Peru e os demais pela Europa. É pianista. Seus
compositores preferidos são Mozart e Bach. Além da língua mãe, é fluente em italiano,
francês, latim, inglês e espanhol, tem conhecimentos de português e lê grego
antigo e hebraico. Seu carro antes de ser papa, um Golf preto, foi vendido no
e-bay por 189 mil euros. Possui um IPod e um IPad. Existe um aplicativo
oficial, inclusive, o “The Pope App”. O IPod foi presente de aniversário da
Rádio do Vaticano, e foi personalizado com o texto “Para Sua Santidade, Bento
XVI”.
Foi o primeiro papa a visitar um museu judaico. Tem uma preferência pelos
múleos, aqueles calçados vermelhos horríveis dos papas. Era muito próximo de João
Paulo II, não apenas profissionalmente, mas pessoalmente.
Impôs voto de silencio ao ex-frade brasileiro Leonardo Boff, devido às posições marxistas
deste. Seu pai morreu quando Ratzinger tinha 32 anos. A mãe, quando ele tinha
36. Recebeu a visita de Madre Teresa de Calcutá em 1978.
Adora
gatos, mas não tem nenhum porque animais são proibidos no Palácio Apostólico
(pensando bem, acho agora que ele renunciou por causa disso). Em seu tempo de
Cardeal, era frequentemente visto alimentando gatos de rua. Tem seis endereços
de email – conhecidos. Dizem que adora Fanta, e que seu suco preferido também é
o de laranja. Sua comida favorita é um prato típico da Baviera, um ravióli feito
de batata.
Dizem também que tem a mania de andar pelos jardins do Vaticano
todos os dias as 4h da tarde, e que ainda guarda bichos de pelúcia feitos pela sua
mãe. Antes de ser papa, era visto com frequência em livrarias e cafés de Roma.
Tem um perfume exclusivo, feito de erva limeira e verbena de limão (se a Sonia Hernandes
pode, ele também pode). Criticou a série Harry Potter, por motivos óbvios, mas
em 2012 pareceu rever seus conceitos e elogiou a obra, por incentivar as
crianças à leitura. Sua biblioteca pessoal tem mais de 20 mil livros.
Todas
as suas publicações podem chegar a 600 títulos. Tendo dois doutorados no Peru, inúmeras
obras suas são em espanhol. Uma das mais importantes é O sal da terra, de 1997, uma entrevista mediada por Peter Seewald
quando Ratzinger era então um dos cardeais mais influentes da Igreja, onde
responde várias questões ligadas aos dogmas e ao futuro da Igreja Católica. Também
é autor de vários livros sobre a vida de Jesus. Foi o primeiro Papa da história recente
a renunciar ao cargo.
A
renuncia de Bento XVI pegou o mundo de surpresa. Ratzinger é um padre
extremamente ortodoxo – o que justifica seu cargo por mais de 20 anos como
Prefeito da congregação para a Doutrina da Fé - o resquício politicamente
correto da Inquisição católica (Azaghal disse que se limitava a dizer que Dan Brown
e Harry Potter eram proibidos). Eu, pessoalmente, já sabia que a saúde do Herr
papa não ia bem, mas não esperava uma decisão tão heterodoxa da parte dele. Essa
decisão pode ter inúmeros significados.
Ratzinger
esta passando por problemas de saúde bastante sérios. Usa um marca-passo há dez
anos – antes de se tornar papa - e seu cansaço em público é visível e gritante.
Em sua visita ao Brasil em 2007, Ratzinger aparentava vigor, falava com ênfase e
vitalidade. Essa situação mudou muito ao longo dos anos. Ele, que viu Karol
Wojtyla definhar no cargo, talvez não quis o mesmo fim. Mas as motivações de
Bento XVI provavelmente são muito mais políticas do que pessoais.
A
Igreja Católica foi construída em cima de morte, sofrimento e de dinheiro dos
fieis. O âmago da crença cristã é podre. No século XV, essa igreja rachou.
Hoje, católicos e protestantes são sal e açúcar, filhos de um mesmo Deus que
são quase inimigos. Não, não é exagero. A Igreja Católica mudou muito desde que
perdeu sua hegemonia, mas a base está lá. Uma igreja centrada na figura do Papa.
Um chefe que mora num palácio quando seus fiéis passam fome. Uma igreja que tem
um banco. Uma igreja que muitas vezes dá mais valos a dogmas do que à fé.
Por
outro lado, a igreja resultante do cisma, a Protestante, se perdeu em seus
valores violentamente. Se a igreja católica “perde” crentes para a protestante,
é porque esses crentes não tem consciência nenhuma de sua fé. A Igreja Protestante
repete, hoje, em seu auge, as mesmas aberrações da Igreja Católica Medieval, e
se tornou um mercado de indulgencias, aquelas que Lutero tanto rebateu. Se a
igreja Católica vive uma crise, e vive, a igreja Protestante vive uma
desvirtuação violenta e sem precedentes desde sua criação. Não basta a igreja
Católica ser reformada. A fé cristã como um todo precisa de reformas.
A
Fé Católica evoluiu muito desde o Concílio Vaticano Segundo. Mas todos os
problemas pelos quais ela passa hoje não são a causa, mas a conseqüência. Não
são os problemas a serem atacados, mas as consequências de uma igreja presa na
Idade Média. O celibato dos padres, a proibição da ordenação feminina, e, gravíssimo,
os escândalos de pedofilia são o resultado de uma igreja que precisa de
soluções, não de dogmas. No entanto, não adianta a igreja Católica se preocupar
com a igreja protestante – e é isso que ela faz. A fé evangélica terá o mesmo
rumo daqui a duas ou três gerações se permanecer dessa forma, e passará por sua
crise também. Ambas as igrejas tem o mesmo problema: um exagero na afirmação de
dogmas, e a fé, que deveria ser a sustentação, se perde. A diferença é que o católico
percebeu. E mudou de religião. Não combateu o problema. O protestante está
cego. Mas se as gerações que virão perceberem o erro, o caos na igreja cristã
será generalizado. Uma igreja que deveria ser unida, é muitas vezes inimiga, e,
se continuar assim, rachará.
A
Fé Cristã precisa de ações, precisa de firmeza, de bom senso, precisa ser Cristocêntrica
e não dogmática. Precisa voltar às origens. Precisa de uma segunda reforma, mas
não uma reforma que rache a fé, uma reforma que uma. A fé protestante precisa
retornar à fé primitiva. E a fé católica precisa sair do passado. Caso
contrário, seremos irmãos sem mãe.
Fontes
Revista Caras
[!], 29/4/2005
http://www.acidigital.com/bentoxvi/biografia.htm.
Acesso em 3/3/2013.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Bento_XVI.
Acesso em 3/3/2013.
http://oglobo.globo.com/mundo/curiosidades-sobre-bento-xvi-7699339.
Acesso em 3/3/2013
http://www.bandeiradois.blog.br/15-curiosidades-e-fatos-engracados-sobre-o-papa-bento-xvi.
Acesso em 3/3/2/13
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