Harry
Potter, ou o anti Peter Pan
Isabelle
Cani
ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS DE HP 3, HP 4, HP 6 E HP 7.
Peter Pan é um livro patético de um
garoto que não quer crescer nunca. É fácil viver quando se é criança, é fácil
escrever sobre crianças porque a vida delas é simples e livre de jugos, porque
não existe preconceito em seus corações e são a própria liberdade, ainda que a
maioria das pessoas pense exatamente o contrário. Difícil é ver que o tempo
passa, a vida bate na sua porta e você precisa crescer mesmo se não quiser. J
K. Rowling mostrou isso magistralmente bem em sua série e a professora francesa
Isabelle Cani faz essa análise com muita propriedade, colocando frente a frente
essas duas obras sobre crianças tão diferentes, dissecando todas as mensagens
de Harry Potter, e demonstrando que a maior grandeza desta obra está numa coisa
bem simples: a frieza da realidade.
(sobre HP e o Cálice de Fogo): “O que induz
ao erro, antes de tudo, é certamente a analogia. Temos a sensação de reviver o
ano anterior, e mesmo de vivê-la melhor, com um Snape mais cabisbaixo e
lamentável, um coadjuvante mais cúmplice e amigável. Seria necessário um leitor
bem perspicaz para reparar imediatamente que falta o essencial, ou seja, a
emoção de Lupin diante do mapa que ele reconhece, a difícil decisão que ele
toma em um instante, antes de apoiar Harry. Com o falso Moody, tudo é fácil, justamente
porque seus sentimentos não são comprometidos, pois ele interpreta um papel
para conquistar a confiança de Harry. A semelhança não passa de uma farsa, as
duas cenas são diametralmente opostas. A lição da segunda é que na vida, nada recomeça de forma idêntica:
acreditar e querer reviver o que já foi vivido é cair na armadilha da magia
negra”.
“Agir é ter de sujar as mãos O adulto é
aquele que abre mão de seu imaginar inocente, que assume sua parte de culpa,
preço que se paga por ser lúcido”.
(sobre Severo Snape): “Snape é o grão de
areia de um amor sincero que se introduz na engrenagem do assassinato e acaba
fazendo tudo derrapar [...] Snape é também o meio pelo qual Rowling mostra que
a penúltima verdade descoberta por aquele que se acha esperto pode levar a uma
interpretação totalmente errônea: supor a partir de um fragmento, por mais
precioso e verídico que seja, às vezes é pior do que estar mergulhado na ignorância
completa”.
2 comentários:
Se não preparamos nossos filhos para a vida como ela é, se tornarão adultos frágeis que não saberão como enfrentar a dificuldade, e se entregarão ao primeiro obstáculo.
Concordo com O Sergio.
Muito interessante esse post.
:)
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