Poirot
and Me
David
Suchet
Há
alguns dias atrás enalteci a perfeição do ator britânico David Suchet para
viver Hercule Poirot, o principal detetive de Agatha Christie. Pesquisando
sobre Poirot e sobre o ator na internet, descobri que há pouco mais de um mês o
ator lançou o livro Poirot and Me – o ebook está à venda na Amazon, apenas na
versão original, da Inglaterra, e espero que logo alguém faça uma versão no
Brasil! Suchet interpretou Poirot por 24 anos, na série Agatha Christie’s Poirot, no ar pelo canal britânico ITV desde 8 de janeiro de 1989 (o
dia em que eu deveria ter nascido!). A série trouxe para a TV todos os livros
protagonizados pelo detetive belga, e, desde o início, Suchet deu vida a ele.
A maneira como Suchet ganhou o papel é bastante curiosa. No
filme Treze à mesa, lançado em 1985, Suchet interpretava o Inspetor Japp,
tão diferente de Poirot. Em 1988, ao se depararem com o projeto da série para
a TV, os herdeiros de Agatha Christie partiram em busca de alguém que pudesse
realmente encarnar Poirot, e perceberam que Suchet poderia ser uma boa opção. A
principio, ele hesitou, alegando que nunca lera nada de Agatha, mas acabou
aceitando e mergulhou de cabeça nos livros da autora, fazendo anotações a
respeito do personagem, suas manias, seu jeito característico, sua
personalidade, e passou a escutar emissoras de rádio francesas e belgas para se
acostumar com o sotaque.
Com o tempo, Suchet acumulou uma bagagem tão grande a
respeito de Poirot que chegou a causar divergências com diretores. Na gravação
do conto A Aventura da Cozinheira de
Clapham, há um momento em que Poirot senta-se num banco, e Suchet tira um
lenço do bolso e limpa o banco antes de se sentar. O diretor Ed Bennett
interrompeu a gravação e alegou que tal cena era preciosismo demais da parte de
Suchet. Este, por sua vez, alegou que Poirot jamais sentaria em um banco ao ar
livre sem limpá-lo antes – o que qualquer fã de Agatha, acostumado com as
manias de simetria, ordem e limpeza de Poirot, sabe que é verdade! Suchet parou
o pé e conseguiu gravar a cena como queria, e, aos poucos, foi ganhando o
respeito dos diretores, dos demais atores, e, o mais importantes, dos fãs.
Ninguém conseguiu criar um Poirot tão real e vivo como ele.
Essas e
muitas outras histórias o ator trás em sua biografia. Poirot tornou-se tão
presente em sua vida que as vezes ele se confunde com o personagem. Suchet trás
também um pouco de todas as adaptações físicas que teve que fazer para viver o
detetive – como o jeito de andar de Poirot, com passos curtos e ágeis, a voz
esganiçada de Poirot, que deve ter sido um desafio para Suchet, que tem a voz
bastante grave, além do famoso bigode de Poirot. Para Suchet, o mais importante
era tornar Poirot real, interessante, charmoso, não caricato, apesar das
excentricidades. Ele conseguiu. Vê-lo atuar é ver Poirot em carne e osso. Um
presente precioso para quem ama a obra de Agatha Christie.
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