O Vendedor de Histórias
Jostein Gaarder
“Lembro-me bem da primeira vez que alguns meninos
tocaram a campainha e perguntaram se eu queria sair para brincar. As roupas
deles estavam sujas, e um deles tinha um nariz ranhento. E lá estavam eles me
perguntando se eu queria brincar de índio e caubói. Fingi estar com dor de
barriga, ou dei alguma outra desculpa mais plausível. Não via sentido em
brincar de índio e caubói em volta de automóveis e varais de charque. Era capaz
de brincar muito melhor na minha própria imaginação, onde havia cavalos e
machadinhas de guerra de verdade, rifles, arco-e-flechas, caubóis, caciques e
feiticeiros. Eu podia ficar sentado na cozinha ou na sala de visitas e, sem
erguer um dedo, encenar as batalhas mais pitorescas entre peles-vermelhas e
caras pálidas. Eu estava sempre do lado dos índios. Hoje em dia está quase todo
mundo do lado dos índios, mas agora é tarde demais”.
Essa pequena parte do livro já mostra a
hiperatividade mental do personagem principal: Petter, um menino com grande
imaginação, mas um pouco egocêntrico e solitário. Filho de pais divorciados,
Petter fazia deveres de casa para outros, dava dicas e ideias para professores,
e quando cresceu, passou a vender ideias para pessoas que queriam se tornar escritores famosos. O que Petter queria não era reconhecimento, queria apenas espalhar suas
ideias pelo mundo. Mais uma lição para a vida, escrita por ninguém menos que Jostein Gaarder.
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