Morte Súbita
J. K. Rowling
J. K. Rowling
Morte súbita é um soco no estômago. Um
tratado do brilhantismo da mãe de Harry Potter, que é mais do que uma escritora
infantil. É uma escritora que, como já mostrara em HP, sabe como ninguém
escrever sobre a vida humana, sobre a hipocrisia do ser humano e sobre as
coisas que realmente importam. Terminei de ler este livro no último sábado, com
a esperança de que, a despeito de crepúsculos, autoajudas e todas as porcarias
que vemos vendendo nas livrarias, ainda existe esperança na literatura.
Barry Fairbrother morre tão rapidamente
quanto aparece no livro. Nem temos tempo de nos apegar a ele, e no entanto sua
incomoda figura assombra a história toda, carrega consigo o peso de uma
história dramática e autentica do inicio ao fim. Barry representava a classe
que não queria a separação de Fields, o “bairro de periferia” de Pagford, uma
típica cidade pequena britânica. Com sua morte, a facção contraria a separação
enfraquece, e percebe-se que não existia uma facção de verdade, mas sim a
imagem de Barry, um homem encantador para todos e não tão encantador para quem
convivia com ele dentro de casa, dia após dia. Sua morte desenrola as peças
desse “dominó humano”, como diz a orelha do livro, um leque de personagens
fascinantes, retratos perfeitos da hipocrisia do ser humano. No entanto, não há
como não citar, dentre Howard, Shirley, Samantha, Bola, Andrew, Tessa, Simon,
Gaia, Parminder, Sukhvinder, Terri e outros, a figura de Krystal Weedon, um
retrato Vigotskiano, uma jovem de coração ingênuo, fruto de Fields, da pobreza,
violência, das drogas – sim, isso existe na Inglaterra também. Krystal era
protegida de Barry Fairbrother, que deixava de lado a esposa e as filhas para
se preocupar com uma jovem semi desconhecida. Estava errado? Não, apenas
deveria ser tão preocupado e amoroso com quem estava dentro do seu lar. Não
adianta ser um primor de pessoas com desconhecidos, que merecem sim nossa
piedade, mas ser indiferente com o que há de mais importante em nossas vidas:
nossa própria família. A imagem imaculada de Barry desconstrói-se brilhantemente
ao longo do livro, junto com a perfeição figurada de Pagford. Os podres das
peças humanas surgem como a luz do sol no amanhecer, e a figura de Krystal
ergue-se, não como perfeita, mas como verdadeira e límpida de caráter, a
despeito de seus palavrões, sua malicia e seu cigarro. Krystal fez o que Barry
não fez: amou sua família, com todos os seus defeitos. Com um final de socar o
estômago e fazer escorrer lágrimas dos olhos, Jo Rowling criou uma obra prima
da literatura, um retrato do que o ser humano é e do que pode ser, se quiser.
Leitura obrigatória para todos que querem ser uma pessoa melhor.
Rainha.
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