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quinta-feira, 24 de março de 2016

#366Acordes - Acorde #84 - Marvin

#84 –24/03/16 – “Marvin”
Composição: versão de “Patches”, feita por Sérgio Britto e Nando Reis
Interpretação: Titãs

Se existe uma versão de música estrangeira que pode ser chamada de perfeita, essa música é Marvin. Patches é uma canção blues de 1962, composta por Ronald Dunbar, General Norman Johnson e gravada por Chairmen of the Board e, posteriormente, por Clarence Carter. Em 1984, foi versionada por Nando Reis e Sérgio Britto para uma banda iniciante, chamada Titãs. A versão foi batizada de Marvin, lançada no disco de estreia dos roqueiros, e regravada em 2001, no Acústico MTV. O poema inconvenientemente triste sobre o garoto órfão e pobre, preso na corrida dos ratos, sem opção de escolha no cassino da vida, tem uma melodia alegre e bem marcada de blues, contrastando bizarramente com a letra deprimente. A versão dos Titãs soube manter o espírito do blues, porém com o reggae mais bem marcado, além do baixo e vocal impecáveis de Nando (eu conheço outro baixista muito melhor do que Nando, e ele também canta). Mas o que mais surpreende, de deixar de boca aberta, é a semelhança da letra. Não somente o sentido da poesia, mas versos inteiros foram milagrosamente traduzidos de maneira impecável. Deixo abaixo as duas versões, para que se contemple a semelhança, e o talento inigualável de Nando e Sérgio Britto ao versionarem esse clássico emocionante, que faz brotar olhos nas minhas lágrimas.


(versão de Clarence Carter)


(Titãs no Acústico MTV, em 2001)


I was born and raised down in Alabama
On a farm way back up in the woods
I was so raggedy, folks used call me, "Patches"
Papa used to tease me 'bout it
Of course deep down inside he was hurt
'Cause he'd done all he could

My papa was a great ol' man
I can see him with a shovel in his hand
See, education he never had
But he did wonders when the time got bad
The little money from the crops he raised
Barely paid the bills we made

Oh, life it kicked him down to the ground
When he tried to get up, life would kick him back down
One day papa called me to his dyin' bed
Put his hands on my shoulders and in tears he said

He said, "Patches
I'm dependin' on you, son
To pull the family through
My son, it's all left up to you"

Two days later papa passed away
And I became a man that day
So I told mama I was gonna quit school
But she said that was daddy's strictest rule

So every morning 'fore I went to school
I fed the chickens and I chopped wood too

Sometimes I felt that I couldn't go on
I wanted to leave, just run away from home
But I would remember what my daddy said
With tears in his eyes on his dyin' bed

He said, "Patches
I'm dependin' on you, son
I tried to do my best
It's up to you to do the rest"

But then one day a strong rain came
And washed all the crops away
And at the age of 13
I thought I was carryin' the weight of the whole world on my shoulders
And you know mama knew what I was going through

'Cause every day I had to work the fields
'Cause that's the only way we got our meals
You see, I was the oldest of the family
And everybody else depended on me
Every night I heard my mama pray
Lord, give him strength to face another day

4 years have passed and all the kids have grown
The angels took mama to a brand new home
God knows people, I shed tears
But my daddy's voice kept me through the years

Sayin', "Patches
I'm dependin' on you, son
To pull the family through
My son, it's all left up to you"

I can still hear papa when he said, "Patches
I'm dependin' on you, son
I tried to do my best
It's up to you to do the rest"

I can still hear papa when he said, "Patches
I'm dependin' on you, son
To pull the family through...


(Retalhos)

Eu nasci e cresci no Alabama
Em uma fazenda sustentada pela madeira
Eu era tão esfarrapado que as pessoas me chamavam de "Patches" 
Meu pai costumava tirar sarro disso
É claro que por dentro ele estava chateado
Porque ele fez tudo o que podia

Meu pai era um grande homem
Eu posso vê-lo com uma pá nas mãos
Ele nunca teve educação
Mas ele fez maravilhas quando as coisas ficaram pretas
O pouco dinheiro da colheita que ele ganhou
Mal pagaram as contas que fizemos

Oh, a vida, o chutou pro chão
Quando ele tentou se levantar, a vida lhe chutou outra vez
Um dia meu pai me chamou para seu leito de morte
Pôs as mãos em meus ombros e sob lágrimas ele falou

Ele disse: "Patches
Estou dependendo de você, filho
Para tirar a família do sufoco
Meu filho, tudo ficou por sua conta"

Dois dias depois meu pai se foi
E eu me tornei um homem aquele dia
Então eu disse para mamãe que eu iria abandonar a escola
Mas ela disse que isso era a regra rigorosa do papai

Então toda manhã seguinte eu ia à escola
Eu alimentei as galinhas e cortei madeira também

Algumas vezes eu sentia que eu não podia continuar
Eu queria largar tudo, simplesmente fugir de casa
Mas eu devia lembrar o que meu pai disse
Com lágrimas nos olhos e em seu leito de morte

Ele disse, "Patches,
Estou dependendo de você, filho
Eu tentei fazer o meu melhor
Cabe a você fazer o resto"

Mas então, um dia, uma forte chuva caiu
E alagou toda a safra
E aos treze anos de idade
Eu pensava que estava carregando todo o peso do mundo em meus ombros
E mamãe sabia pelo o quê eu iria passar

Porque todo dia eu teria que trabalhar no campo
Pois esse era o único meio de nós conseguirmos nossa comida
Veja, eu era o mais velho da família
E todos dependiam de mim
Toda noite eu ouvia minha mãe rezar
Deus, lhe dê forças pra enfrentar outro dia

Quatro anos passaram, cresceram meus irmãos
E os anjos levaram minha mãe para uma casa nova em folha
Deus sabe, eu derramei lágrimas
Mas a voz do meu pai me acompanhou pelos anos

Dizendo "Patches
Estou dependendo de você, filho
Para tirar a família do sufoco
Meu filho, tudo ficou por sua conta"

Eu ainda posso ouvir meu pai quando ele disse "Patches,
Estou dependendo de você, filho
Eu tentei fazer o meu melhor
Cabe a você fazer o resto"

Eu ainda posso ouvir meu pai quando ele disse "Patches
Estou dependendo de você, filho
Para tirar a família do sufoco...


(Marvin)
Meu pai não tinha educação
Ainda me lembro era um grande coração
Ganhava a vida com muito suor
E mesmo assim não podia ser pior
Pouco dinheiro pra poder pagar
Todas as contas e despesas do lar

Mas Deus quis vê-lo no chão com as mãos
Levantadas pro céu, implorando perdão
Chorei!
Meu pai disse: "Boa sorte"
Com a mão no meu ombro
Em seu leito de morte
E disse:

"Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer"

E três dias depois de morrer
Meu pai, eu queria saber
Mas não botava nem os pés na escola
Mamãe lembrava disso a toda hora
E todo dia antes do sol sair
Eu trabalhava sem me distrair

Às vezes acho que não vai dar pé
Eu queria fugir, mas onde eu estiver
Eu sei muito bem o que ele quis dizer
Meu pai, eu me lembro
Não me deixa esquecer
Ele disse:

"Marvin, a vida é pra valer
Eu fiz o meu melhor
E o seu destino eu sei de cor"

-"E então um dia uma forte chuva veio
E acabou com o trabalho de um ano inteiro
E aos treze anos de idade eu sentia
Todo o peso do mundo em minhas costas
Eu queria jogar, mas perdi a aposta"

Trabalhava feito um burro nos campos
Só via carne se roubasse um frango
Meu pai cuidava de toda a família
Sem perceber segui a mesma trilha
E toda noite minha mãe orava
Deus! Era em nome da fome que eu roubava

Dez anos passaram, cresceram meus irmãos
E os anjos levaram minha mãe pelas mãos
Chorei!
Meu pai disse: "Boa sorte"
Com a mão no meu ombro
Em seu leito de morte
E disse:

"Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer"

"Marvin, a vida é pra valer
Eu fiz o meu melhor
E o seu destino eu sei de cor"
 


2 comentários:

Marvin (Sérgio Rodrigues) disse...

Qualquer uma das duas versões me emociona. A letra é marcante.

Larissa Silva disse...

É difícil ouvir e não chorar :'(