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segunda-feira, 14 de março de 2016

#366Acordes - Acorde #74 - Ponteio


#74 –14/03/16 – “Ponteio”
Composição: Edu Lobo e Capinam
Interpretação: Edu Lobo e Marília Medalha

Entre tantas canções geniais, como Alegria, Alegria, Domingo no Parque e Roda Viva, porque Ponteio foi a vencedora do III Festival de Música Popular Brasileira? Porque nenhuma delas, nem mesmo Roda Viva, passava a mensagem que Ponteio passava da maneira que passava, com a força de um poema brilhante de José Carlos Capinam, a melodia violenta de Edu Lobo, mais o arranjo absurdamente impecável e o casamento perfeito das vozes de Lobo e Marília Medalha. Segundo o documentário Uma noite em 67, Edu Lobo conta que tinha um caderno onde anotava ideias para versos de músicas e títulos interessantes que pudesse usar em canções (parece alguém que eu conheço). Assim, Lobo tinha o título de Ponteio e o refrão antológico. Entregou as ideias e a melodia para Capinam, que compôs a letra de protesto, claramente referenciando à perseguição militar (como não foi censurada!), que vicejou no festival, forte e emocionante.

Quero fazer um parênteses e apontar para a reação da plateia. A mesma plateia que vaiou sem pena Sérgio Ricardo e Roberto Carlos, também vaiou Caetano, mas se redimiu à beleza da canção, e ovacionou Ponteio. A reação do público é emocionante, uma plateia que não é estática, mas que lá está com um propósito, que compreende as canções, que se emociona. Não apenas Ponteio, mas nos vídeos de Domingo no Parque e Roda Viva, isto também é perceptível. O público se identifica com canções profundas e bem feitas, canta a letra de cabo a rabo, suas reações são genuínas e emocionantes de se ver. Hoje, são canções vazias que preenchem os ouvidos da juventude. Naquele tempo, a juventude protestava COM INTELIGÊNCIA, vivia uma revolução musical no país, e fazia parte desta revolução. Ponteio, com certeza, era a canção mais forte, e o público percebeu isso, aos gritos de já ganhou, ovacionando os intérpretes. Hoje, outros cantores são ovacionados por outros motivos, jovens gritam alucinadas por cantores bonitos sem nenhum conteúdo. Naquela época, Músicos com M maiúsculo eram aplaudidos de pé, não por aparência ou por músicas sem conteúdo, mas por Música de verdade. Tempos que não voltam. Nunca mais. Tempo em que não se podia cantar. Hoje, se pode cantar, mas não se canta.
#PRONTOFALEI

 
Era um, era dois, era cem
Era o mundo chegando e ninguém
Que soubesse que eu sou violeiro
Que me desse o amor ou dinheiro...

Era um, era dois, era cem
Vieram prá me perguntar:
"Ô voce, de onde vai
de onde vem?
Diga logo o que tem
Prá contar"...

Parado no meio do mundo
Senti chegar meu momento
Olhei pro mundo e nem via
Nem sombra, nem sol
Nem vento...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar...

Era um dia, era claro
Quase meio
Era um canto falado
Sem ponteio
Violência, viola
Violeiro
Era morte redor
Mundo inteiro...

Era um dia, era claro
Quase meio
Tinha um que jurou
Me quebrar
Mas não lembro de dor
Nem receio
Só sabia das ondas do mar...

Jogaram a viola no mundo
Mas fui lá no fundo buscar
Se eu tomo a viola
Ponteio!
Meu canto não posso parar
Não!...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar, prá cantar
Ponteio!...

Pontiar!

Era um, era dois, era cem
Era um dia, era claro
Quase meio
Encerrar meu cantar
Já convém
Prometendo um novo ponteio
Certo dia que sei
Por inteiro
Eu espero não vá demorar
Esse dia estou certo que vem
Digo logo o que vim
Prá buscar
Correndo no meio do mundo
Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar prá cantar...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar
Ponteio!...

Lá, láia, láia, láia...
Lá, láia, láia, láia...
Lá, láia, láia, láia...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar
Ponteio!...

Prá cantar
Pontiar!...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá Cantar...



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