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quinta-feira, 10 de março de 2016

#366Acordes - Acorde #70 - Disparada

#70 –10/03/16 – “Disparada”
Composição: Geraldo Vandré e Théo Barros
Interpretação: Jair Rodrigues

Por algum motivo, a TV Excelsior não transmitiu o II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966, que foi televisionado pela Record, pela TV Paulista e pela TV Globo. Infelizmente, perderam o momento histórico em que A Banda, de Chico Buarque, interpretada por ele e Nara Leão, e Disparada, defendida por um tal de Jair Rodrigues, dividiram o prêmio de primeiro lugar. Escrita pelo grande Geraldo Vandré e por Théo Barros, a canção foi um marco nos festivais dominados pela MPB e pela Bossa Nova, já que é uma música com forte arranjo sertanejo e influência caipira – e é muito boa! Disparada é uma canção de protesto que compara a conduta dos homens com o gado e com as pessoas – uma forte referência à ditadura. A presença sertaneja no festival foi tão chocante quanto boa e foi um divisor de águas na carreira de Jair Rodrigues, conhecido por cantar sambas, mas que defendeu de maneira tão brilhante, tão antológica, esta canção, e ganhou o prêmio de melhor intérprete do festival.
 

[nota para os militares que aparecem na plateia, um está bolado, outro está quase dormindo e um terceiro (que deve ser reco) está amarradão!]


Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar, eu vivo pra consertar

Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
Não por um motivo meu, ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu

Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei

Então não pude seguir valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você não concordar, não posso me desculpar
Não canto pra enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu querer ir mais longe do que eu

Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
Já que um dia montei agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte num reino que não tem rei...



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