Quincas Borba
Machado de Assis
Ao vencedor, as batatas. Uma das mais
famosas frases da literatura brasileira representa a sociedade brasileira:
falida. Não mudou muito do sinal do século XIX para o início do século XXI. Quincas
Borba era um dos amigos de Brás Cubas, e aparece vagamente neste livro. Agora, Quincas
esconde-se em Barbacena, Minas, com seu enfermeiro, Rubião, e seu cachorro,
também Quincas Borba. O Quincas humano apresenta a Rubião o Humanitismo, uma
filosofia que prega que a sobrevivência depende de saber vencer os outros. Quando
o Quincas humano morre, deixa sua herança para Rubião, com a condição que este
cuidasse do Quincas cachorros. Rubião carrega sua fortuna e seu cão para o Rio
de Janeiro. Lá, conhece o desgraçado Cristiano Palha e sua nojenta esposa,
Sofia. Rubião começa a freqüentar a casa dos dois e se apaixona por Sofia. Esta
e palha percebem a oportunidade de ouro que tem com a “amizade” de Rubião, e
aproveitam a ingenuidade deste e a própria paixão que ele tem por Sofia. Sem
nenhum remorso de usar a própria esposa, Palha envolve Rubião em sua própria inocência.
Sentindo na própria pele a filosofia de Quincas Borba, Rubião enlouquece, e
Machado nos demonstra da maneira mais clara possível que, sim, o mundo é dos
espertos.
“Supõe tu um campo de batatas e duas
tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que
assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há
batatas em abundancia; mas se as duas tribos dividirem as batatas do campo, não
chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse
caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a
outra e recolhe os despojos. Daí a alegria e ousadia da vitória, os hinos,
aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.
Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo
motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou
vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que
virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as
batatas."
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