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sexta-feira, 6 de maio de 2016

#366Acordes - Acorde #127 - Admirável Gado Novo

#127 – 06/05/16 – “Admirável Gado Novo”
Composição: Zé Ramalho
Interpretação: Zé Ramalho

Zé Ramalho faz o que pouquíssimos cantores fazem hoje: pensa, antes de fazer uma canção. E nenhuma canção serve melhor como exemplo disso do que Admirável Gado Novo, que o povo canta pelo país inteiro, mas infelizmente ainda não entendeu.

Zé Ramalho nasceu na Paraíba, e perdeu o pai muito cedo, sendo criado pelo avô. Participou de vários festivais até gravar seu disco de estreia, Zé Ramalho, com a música Avôhai, que demonstra seu amor por seu pai e seu avô. Foi em 1979 que ele gravou o LP A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, com a música Admirável Gado Novo. Essa canção foi trilha da novela O Rei do Gado, exibida por aquela rede de TV cujo logo era cinza em 1974, mas depois saiu do armário...

A música fala de sonhos que nunca serão alcançados, e de um povo que tenta fugir da ignorância, mesmo vivendo tão próximo dela. A "marca" do gado retrata a exploração de muitos em prol de poucos. Zé Ramalho sempre se inspirou na literatura, e essa canção tem muito do romance distópico de Aldous Huxley - Admirável Mundo Novo - de 1932, onde as pessoas são condicionadas biológica e psicologicamente antes do nascimento a viverem de acordo com as normas, numa sociedade organizada por castas, apenas produzindo, cumprindo seu papel na sociedade. Um povo alienado, sem opiniões, mas "feliz".






Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro

É duro tanto ter que caminhar

E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, ôo, vida de gado
Povo marcado, êh!
Povo feliz!

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, ôo, vida de gado
Povo marcado, êh!
Povo feliz!

O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar
Êh, ôo, vida de gado
Povo marcado, êh!
Povo feliz!


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