Fiquei feliz com a derrota da
seleção brasileira na copa 2014. Foi um perfeito tapa na cara daqueles que
consideram o futebol uma instituição, um evento ou qualquer outra coisa
grandiosa, sendo que é apenas um torneio. O futebol pode mudar a vida de um ou outro
por aí, mas não faz diferença para a sociedade, para o trabalhador que levanta
as cinco da manhã para garantir o ganha-pão de seus filhos, para a dona de casa
que precisa contar cada moeda para que possa ir ao mercado e garantir o
sustento para sua família, para o morador de rua que foi ignorado pela
sociedade, para a criança sem pais que foi entregue ao juizado de menores.
Nenhum deles terá sua vida melhorada pelo fato de o Brasil ganhar uma copa do
mundo.
O Brasil já foi derrotado há
muito tempo: derrotado na educação, na oportunidade de emprego, na saúde, no
desenvolvimento humano. Já somos derrotados. E nossos maiores adversários não
são os alemães, e sim os políticos que nós mesmos colocamos no poder para nos
representar, mas fomos traídos. Eles corrompem o país com a podridão da
ganância.
A Alemanha já ganhou o principal
troféu que se pode ter, um país que foi destruído em duas guerras mundiais e se
recuperou. Um povo que trabalha, que valoriza a capacitação (como a própria
seleção alemã demonstrou), a honestidade e a humildade. Um povo que tem sua
economia forte e sua indústria estável. Um dos melhores países para se viver.
Educação e saúde num patamar muito mais alto do que a nossa situação. Isto é o
melhor prêmio que um povo pode ter.
Posso dizer que o Brasil só tinha
o futebol, e mais nada. E agora nem isso. Somos um povo preguiçoso, que
valoriza a malandragem. Somos o país do carnaval e do sexo fácil, da
banalização da mulher. O país da corrupção, o país onde o povo se contenta com
um churrasco e uma cerveja gelada aos domingos. O país que considera lixo como
cultura, e mulheres levianas como pensadoras. O país onde a imprensa faz o povo
pensar como ela quer, onde um pequeno grupo de pessoas – inteligentes mas
corruptas – domina o resto da nação, fazendo de nós joguetes em suas mãos. Um
país onde os protestos válidos foram esquecidos porque armaram um circo
internacional chamado copa do mundo.
Em 1986 nos ofereceram a
oportunidade de sediar uma copa do mundo. O então presidente João Figueiredo respondeu
aos intermediadores: “Vocês já visitaram uma favela no Rio? Já viram a seca no
Nordeste? Vocês acham mesmo que com tantos problemas mais sérios vou gastar
dinheiro com futebol?” Apesar de seus defeitos, Figueiredo teve mais bom senso
do que a Dilma, que valorizou mais o interesse da FIFA do que o próprio povo
que ela governa.
Ouvi muita gente afirmando que a
copa é importante, e tem seu lado bom. Todos os que afirmaram isto tem uma vida
estável, uma casa excelente, um carro do ano na garagem, e um bom salário,
quando não possuem duas ou mais fontes de renda. É fácil criticar os de baixo
quando estamos em cima.
Os brasileiros que nunca se
iludiram e protestaram contra a copa foram taxados de alienados. Os demais, que
só acordaram após a derrota do Brasil, chegaram tarde. Como diz um colunista
lageano, o prato (político) está feito. E a partir de segunda feira voltamos às
nossas mazelas, e à nossa miséria.
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