Enquanto 99% dos brasileiros estava preocupado em assistir a
droga do jogo, eu estava lendo um livro chamado 1822. Para a maioria dos meus
compatriotas, este número não significa nada. Mas eles são patriotas, eu não. Eu sou trabalhadora. Eu estudo, eu pago meus
impostos. Eu estou com minhas obrigações eleitorais em dia. Eu amo este país, e
por isso me enfureço tanto, eu respeito este país, faço isso todo santo dia em
meu trabalho. Eu estudo e aprendo sobre meu país. Assim como milhões de pessoas
neste país. Mas como eu me reservo o direito silencioso de odiar futebol eu não
sou patriota. Admirar outro país me faz menos brasileira que os demais, a despeito de tudo que, como cidadã, faço por essa nação.
Quando esta droga de jogo acabar, as bandeiras serão retiradas
das janelas, portas e carros, as vaias tomarão conta do estádio, como se perder
uma droga de jogo fosse um crime. Mas estes são patriotas, eu não. Eu sei
cantar o hino nacional, e por inteiro, não apenas a parte cantada na droga do
jogo. Mas eu não sou patriota. Há dois anos trabalho em uma escola, e ainda não
tive a oportunidade de desfilar NO DIA DA PÁTRIA com meus colegas e alunos, mas vá lá e veja a
decoração para a copa. Isso é patriotismo? NÃO, ISSO É ALIENAÇÃO. To de saco
cheio dessa alienação, dessa cegueira, de ver um país parar por causa da droga
da copa, como se somente isso fosse importante e mais nada. Queria que o meu
pai tivesse o mesmo fervor para xingar e falar palavrões ao ver a droga do jogo
para ter acompanhado minha infância.
Eu torço para o Brasil todos os dias. Eu quero ser diplomata
porque torço pelo Brasil. Torcer na copa é fácil, divertido e hipócrita. Foram
sete gols? Devia ter sido catorze. O Brasil perde de lavada todos os dias. Essa
foi a menor derrota.
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