Submarino

domingo, 18 de abril de 2010

Anderson Amaro Fernandes, Capitão da FAB

       O texto abaixo foi escrito por W. Potter no fatídico dia 02/04/2010, minutos após o acidente.

               Nasci e moro na cidade de Lages, interior de Santa Catarina há 21 anos, e há menos de uma hora, mais precisamente às 17:30 hrs do dia 02 de abril de 2010, sexta-feira santa, eu, meus pais, minha irmã e mais milhares de pessoas presenciamos a queda de um avião Tucano da Esquadrilha da Fumaça, mais precisamente o nº 7. Ainda não sei quem era o piloto, seu nome, de onde era, o que aconteceu. Como já citei, o acidente aconteceu há uns 50 minutos, então não temos informação nenhuma. Infelizmente, aviões caem no mundo. Não foi o primeiro e não será o último. Milhões e milhões de pessoas presenciaram e presenciarão, infelizmente, quedas de aviões no mundo. Entretanto, existe uma máxima no mundo: A de que essas coisas intensas, impactantes, nunca acontecem conosco, apenas com os outros. Hoje aconteceu comigo, com meus pais e com milhares de pessoas que provavelmente nunca tinham passado por tal situação.
               A Esquadrilha da Fumaça estava fazendo uma apresentação em minha cidade nessa Sexta-feira Santa. A apresentação iniciou às pontuais 17:00 hrs. Eu moro muito próximo do Aeroporto, e estava em minha casa, onde a visão do espetáculo era extremamente ampla. Infelizmente. Várias pessoas, naturalmente, estavam em minha rua, assistindo a apresentação. E mais pessoas estavam no Aeroporto, e outros milhares nos outros bairros vizinhos. De repente, eu resolvi olhar na outra direção, contrária à do Aeroporto, e imediatamente ouvi a voz do meu pai:
- Caiu! Olha lá! Caiu!
E eu me virei. E vi. Uma imensa - e quando eu digo imensa, é do "verbo" extremamente gigante e assustadora - bola de fogo, e uma fumaça negra imensa e assustadora. E imediatamente foi como se eu tivesse surtado.. Devo dizer aqui que tenho depressão e a medicação para essa doença já age com o objetivo de deixar a pessoa boba e surtada, provavelmente para o indivíduo manter a calma à força. E quando eu vi aquela coisa horrível tão perto de mim, foi mais ou menos isso que aconteceu comigo. Parecia que não era... Até agora, quando revejo a cena em minha mente, parece que não era, que não era comigo, ali tão perto... Uma coisa que gostei tanto, sempre morei aqui, há 1 km do aeroporto, vendo aqueles aviõezinhos passando por cima da minha casa, sempre gostando daquilo tudo, de ver aviões, de ver tudo isso... Em 1997, um acidente muito semelhante aconteceu num local muito próximo deste de hoje, e infelizmente muitas pessoas morreram há 13 anos atrás. Mas na ocasião, eu não fui testemunha. Hoje eu vi. Eu vi e me choquei. E aquele torpor que senti foi muito, muito rápido, porque imediatamente comecei a gritar. Liguei para o Marvin. Tremia inteira. Que vocês nunca, nunca passem por isso; mas se passarem, vocês saberão o que estou falando.
               Toda a região do aeroporto se encheu, as ruas do meu bairro se encheram e depois do impacto veio o torpor, e o choque. E o silêncio. Pelo rádio descobri que o piloto chamava-se Anderson Amaro, capitão da FAB. As pessoas conseguiram ouvir o motor do avião morrer, e ao que consta, o rapaz percebeu que a aeronave cairia, e desviou de um grupo de cerca de 200 pessoas, que seria atingido. Em virtude da rapidez de tudo, ele escolheu desviar do público, e não conseguiu ejetar do avião. No rádio, as pessoas dão seus depoimentos e se emocionam. Como se... Morrer desta forma doesse muito mais, nele e em nós. Em mim, está doendo até agora. Mais um ingrediente para minha doença, para minha vida cheia de problemas. Agora, talvez carregue comigo o trauma de avião. A explosão não sai de minha mente. Perdoem meu desabafo. Minha cidade e minha família viam um espetáculo bonito e marcante, que virou uma tragédia. Acabei de rever a queda na televisão, e pela primeira vez senti: "Eu vi isso ao vivo"! Dói e choca. Tentem se colocar em nosso lugar. Mas que nunca estejam. Que Deus abençoe a todos nós, e a esse rapaz.

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