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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobreviver no Brasil

Há três meses tenho meu remédio, que é de alto custo, fornecido pelo governo. Na ultima sexta, fui até a secretaria regional na minha cidade para pegar as caixas referentes a dezembro. Tinham sido mandadas apenas duas caixas, com a metade da dose que eu tomo. Como se não bastasse isso, tive que ouvir da funcionaria a seguinte frase: “esse aqui é de novembro, que você já devia ter tomado...”
O que a gente faz quando precisa muito de algo, e a única ajuda que você consegue te trata como refém, uma hora pode me ajudar, mas uma hora não pode? Não preciso falar do descaso da saúde publica nesse país. O que eu faço sem meu remédio? As pessoas acham que depressão é brincadeira, que você está assim porque quer. Quem toma antidepressivos não pode ficar sem eles, de jeito nenhum, é como ficar sem comer. Você não pode interromper bruscamente o tratamento, o paciente pode morrer. Falo do meu problema, mas não é apenas isso. Qualquer pessoa que faça uso crônico de um remédio precisa dele como de comida. E o governo faz de conta que é uma brincadeira, e não sei por que cargas d’água manda as coisas quando quer! Como se isso fosse pouco, põe palermas irresponsáveis para nos atender, e nós, que estamos doentes, que temos que nos submeter ao sistema, vamos com toda boa vontade todo o mês nesses lugares asquerosos pegar nossos remédios, e temos que ouvir uma irresponsável, incompetente, nos jogar na cara que não estamos tomando nossos remédios? Que brincadeira é essa? Ela acha o que, que perdemos nosso tempo lá para chegarmos em casa e jogar o remédio fora? Pensa cinqüenta vezes antes de falar, porque se eu fosse uma depressiva louca, poderia ter batido nessa vaca – o que, alias, tive muita vontade de fazer.
Esse é o país em que vivemos. E, apesar de eu estar aqui desabafando, sei que pouco adianta, porque não vai mudar. Pra mudar, tinha que nascer de novo.

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