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sábado, 26 de dezembro de 2009

Veríssimo (Pra você, Larissa, escreva...)

                    O que leva uma pessoa a escrever? Para o escritor Luis Fernando Verissimo, sempre foi uma questão de necessidade. Mas não uma necessidade banal, que escutamos dos poetas menores de “colocar para fora aquilo que se sente”. Não. Verissimo começou a escrever, já depois dos 30 anos, por dinheiro.
Até que, depois de décadas de editores a lhe cobrar textos, veio Os espiões, seu último livro. Após ter eleito sempre a folha em branco como sua musa, Verissimo resolveu escrever porque queria escrever. Sem encomenda, com o seu próprio tempo. Simples. E o assunto “por que alguém se senta em frente a esta mesma folha em branco e começa a preenchê-la?” permeou o seu novo trabalho.
Claro que a obra é uma homenagem/paródia aos livros de espionagem de John Le Carré. Mas essa é a primeira leitura. Na segunda olhada, para quem já acompanha o caminhar do autor gaúcho desde O jardim do diabo, já dá para perceber a reunião de várias de suas melhores qualidades: humor inteligente, referências, caricaturas de personagens, etc.
                    E a questão do por que escrever. É tão clara a sua necessidade de abordar o assunto que ele deixa transparecer a questão em alguns trechos. Como esse: “Todos nós merecíamos pertencer à irmandade dos que escrevem, só por querer”. Dá a entender que o narrador, um escritor frustrado que acaba como editor, não acredita na tese de escrever à toa, sem uma necessidade, sem um editor que o cobre ou uma conta a pagar.
                    Ou este: “O Amante Secreto (um personagem do livro) também sucumbira ao bendito ímpeto de escrever, o que fora a sua ruína. A estranha compulsão fizera mais uma vítima. O Professor Fortuna (outro personagem do livro) diz que em vez de endeusar escritores deveríamos louvar os milhões que resistem e não escrevem, e cuja grande contribuição à literatura universal são as folhas que deixam em branco”.
                    O escrever, este “bendito ímpeto”, é a “ruína” do Amante Secreto. Já o Professor, um desses personagens deliciosos que só o Verissimo é capaz de criar, que costuma ser do contra e que adora Nietzsche sem nunca ter lido nada do filósofo, sugere, à sua maneira niilista, homenagear a folha em branco. Como se dissesse que não é necessário escrever, não é necessário ler, não é necessário fazer nada. Exageros à parte, e de uma maneira torta, novamente estamos falando da musa do Verissimo: a folha em branco.
Os espiões mostra, ao fim, que às vezes a tentação de escrever é maior que a capacidade criativa dos escritores. Ou que não basta querer escrever, tem que ter inspiração.

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