Por volta de 327 a. C durante as campanhas de Alexandre
Magno na Índia, chegaram à Europa notícias sobre a existência de “uma espécie
de bambu que produzia mel sem intervenção de abelhas, servindo também para
preparar uma bebida inebriante” (historiador português Henrique Parreira).
A Saccharum officinarum, espécie de cana dominante no mundo,
é uma gramínea originária da região onde hoje é Papua Nova Guiné, zona tropical
do Oceano Pacífico, onde foi domesticada por populações tribais há mais de 7
mil anos, de onde se propagou para a Índia e China. No século III fabricava-se
na China, a partir da cana, um produto identificado pelos ideogramas “pedra” e
“mel”.
Quando começou a ser cultivada no Brasil, a cana tornou-se
símbolo do desmatamento e da mudança econômica da colônia portuguesa. Em seu
livro Nordeste, de 1937, Gilberto Freyre descreve bem a entrada da cana na
região:
“Um conquistador em terra inimiga, matando as árvores,
secando o mato, afugentando e
destruindo os animais e até os índios, querendo
para si toda a força da terra”.
Em 1570, havia apenas 60 engenhos no Brasil, e em 1630, já
eram 350, produzindo mais de 20 mil toneladas de açúcar por ano. Havia um dito
popular que explicava a situação da colônia:
“Sem açúcar não há Brasil, sem
escravidão, não há açúcar, sem Angola, não há escravos”.
Ilustração: Engenho de açúcar no Brasil no século XVII
A floresta tropical nativa, aos olhos dos produtores, era
apenas um estorvo à produção do açúcar, que tornou-se moeda, commodity, lucro
inigualável na mão dos senhores do engenho, e causa principal da escravidão.
Para cada quilo de açúcar, quinze quilos de lenha era consumidos, e das árvores
da floresta provinham até mesmo as caixas para seu transporte.
Ainda hoje, com o “desenvolvimento do comércio nacional e
internacional do biocombustível”, confundem-se as palavras “desenvolvimento” e
“desmatamento”, e o ciclo da cana-de-açúcar continua, com destruição
“legalizada” de florestas em nome do progresso, e formas de trabalho em regime
de semiescravidão. O doce do açúcar é suplantado pelo que nos conta a história
amarga de anos de escravidão, desflorestamento, doenças causadas pelo consumo
excessivo associado ao crescimento epidêmico de doenças como diabetes,
obesidade e cáries dentárias, tudo isso em nome do “progresso econômico”.
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