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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Mundo que Chegou Pelo Correio - parte 4 - final (Carl Sagan)

"O nosso mundo grande é muito semelhante a esse mundo pequeno, e somos muito parecidos com os camarões. Mas há, pelo menos, uma diferença importante: ao contrario dos camarões, somos capazes de mudar o nosso meio ambiente. Podemos fazer conosco o que um dono descuidado daquela esfera de cristal pode fazer com os camarões. Se não cuidarmos, podemos aquecer o nosso planeta pelo efeito estufa atmosférico ou esfriá-lo e escurecê-lo com as conseqüências de uma guerra nuclear ou de um grande incêndio num campo petrolífero (ou ignorar o perigo de um impacto causado por um asteróide ou um cometa). Com a chuva ácida, a diminuição da camada de ozônio, a poluição química, a radioatividade, a destruição das florestas tropicais, e uma dúzia de outros ataques ao meio ambiente, estamos puxando e esticando o nosso pequeno mundo em direções bem pouco compreendidas. A nossa civilização pretensiosamente avançada pode estar alterando o delicado equilíbrio ecológico que evolui com dificuldade ao longo do período de 4 bilhões de anos da vida sobre a Terra.
Os crustáceos, como os camarões, são muito mais antigos que as pessoas, os primatas ou até os mamíferos. As algas remontam a 3 bilhões de anos atrás, muito antes dos animais, quase até a origem da vida sobre a Terra. Todos têm trabalhado juntos – plantas, animais, micróbios – por muito tempo. O arranjo de organismos na minha esfera de cristal é antigo, muito mais antigo que as instituições culturais que conhecemos. A tendência a cooperar tem sido dolorosamente extraída por meio do processo evolucionário. Aqueles organismos que não cooperam, que não trabalharam uns com os outros, morreram. A cooperação está codificada nos genes dos sobreviventes. Faz parte da sua natureza cooperar. É a chave para a sua sobrevivência.
Mas nós, humanos, somos recém-chegados, pois só surgimos há uns poucos milhões de anos. A nossa presente civilização técnica tem apenas algumas centenas de anos. Não tivemos muitas experiências recentes de cooperação voluntaria entre as espécies (ou até entre a mesma espécie). Somos muito inclinados ao curto prazo e quase nunca pensamos no longo prazo. Não há garantia de que seremos bastante sábios para compreender o nosso sistema ecológico fechado em todo o planeta, ou para modificar o nosso comportamento de acordo com esse entendimento.
O nosso planeta é indivisível. Na América do Norte, respiramos oxigênio gerado na floresta tropical brasileira. A chuva acida das indústrias poluentes no meio oeste norte-americano destrói florestas canadenses. A radioatividade de um acidente nuclear na Ucrânia compromete a economia e a cultura Lapônia. A queima de carvão na China aquece a Argentina. Os clorofluorcarbonetos liberados por um ar-condicionado na Terra Nova ajudam a causar câncer de pele na Nova Zelândia. Doenças se espalham rapidamente ate os pontos mais remotos do planeta e requerem um trabalho medico global para serem erradicadas. E, sem duvida, a guerra nuclear e um impacto de asteróide representam um perigo para todo o mundo. Gostando ou não, nós, humanos, estamos ligados com nossos colegas humanos e com as outras plantas e animais em todo o mundo. As nossas vidas estão entrelaçadas.
Se não fomos agraciados com um conhecimento instintivo que nos mostre o que fazer para que nosso mundo regido pela tecnologia seja um ecossistema seguro e equilibrado, devemos descobrir como fazê-lo. Precisamos de mais pesquisa cientifica e mais controle tecnológico. É provavelmente muito cômodo esperar que um grande Zelador do ecossistema venha à Terra e corrija os nossos abusos ambientais. Cabe a nós a tarefa.
Não deve ser tão difícil assim. Os pássaros – cuja inteligência tendemos a denegrir – sabem o que fazer para não sujar o ninho. Os camarões, com cérebro do tamanho de partículas de fiapos, sabem o que fazer. As algas sabem. Os microorganismos unicelulares sabem. Já é hora de sabermos também."

Um comentário:

silvo disse...

Debemos mirar por nuestro planeta,no tenemos otro y es muy bello, cierto somos unos recién llegados y quienes más influimos en la rotura del equilibrio necesario, saludos