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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Mundo que Chegou Pelo Correio - parte 1 (Carl Sagan)

Vou transcrever aqui um texto grande, mas muito bom, de Carl Sagan extraído do livro "Bilhões e Bilhões". Vou dividí-lo em partes. Vale a pena lê-lo, fala sobre o mundo em que vivemos, a preservação deste mundo, e a falta de bom senso do ser humano, que se acha a mais inteligente das criaturas...

"O mundo chegou pelo correio. Estava marcado “frágil”. No embrulho, havia um adesivo com a figura de um pequeno globo partido. Eu o abri cuidadosamente, temendo ouvir o tilintar de cristal quebrado ou descobrir cacos de vidro. Mas estava intacto. Com as duas mãos, tirei-os da caixa e o ergui à luz do sol. Era uma esfera transparente, com água mais ou menos pela metade. O numero 4210 estava indicado numa etiqueta não muito visível. Mundo número 4210: devia haver muitos desses mundos. Cautelosamente, eu o instalei no suporte de acrílico que veio junto e fiquei observando.
Podia ver a vida lá dentro – uma rede de ramos, alguns incrustados com algas verdes filamentosas, e seis ou oito pequenos animais, a maioria cor-de-rosa, saltando, ao que parecia, entre os ramos. Alem disso, havia centenas de outras espécies de seres, tão abundantes nessas águas quanto os peixes nos oceanos da Terra. Mas eram todos micróbios, muito pequenos para que eu pudesse vê-los a olho nu. Evidentemente, os animais rosa eram camarões de uma variedade apropriadamente despretensiosa. Eles logo atraiam a atenção, porque estavam muito ocupados. Alguns tinham pousado nos ramos e estavam caminhando sobre dez patas e abanando muitos outros apêndices. Um deles estava dedicando toda a sua atenção, além de um considerável numero de patas, ao ato de comer u filamento de planta. Entre os ramos, cobertos de algas assim como as arvores na Geórgia e no norte da Flórida se cobrem de barbas-de-pau, podia-se ver outro camarão movendo-se como se tivesse um compromisso urgente em algum outro lugar. Às vezes eles mudavam de cor, ao passarem nadando de um ambiente para outro. Um era pálido, quase transparente; outro, laranja, com um constrangido rubor vermelho.
Sob alguns aspectos, é claro, eram muito diferentes de nós. Tinham seus esqueletos de fora, respiravam água, e uma espécie de anus estava desconcertadoramente localizado perto de suas bocas. (mas eram exigentes no que dizia respeito à aparência e limpeza, possuindo um par de patas especializadas com cerdas semelhantes a escovas. De vez em quando, um camarão dava em si mesmo uma boa esfregadela.)
Mas, sob outros aspectos, eles eram como nós. Era difícil não perceber. Tinham cérebro, coração, sangue e olhos. Aquela agitação de apêndices natatórios impulsionando-os pela água traia o que parecia ser um evidente sinal de propósito. Quando chegavam ao seu destino, atiravam-se aos filamentos de alga com a precisão, delicadeza e diligencia de um gourmet aficionado. Dois deles, mais aventureiros que o resto, erravam pelo oceano desse mundo, nadando bem acima das algas, explorando languidamente o seu domínio."

Um comentário:

silvo disse...

Diferentes peor iguales, ese es el mensaje que percibo, me gusta, saludos