Imagine-se lendo um livro, ou vendo um filme, ou qualquer coisa do gênero, e
deparar-se com uma história de hipocrisia, onde pessoas matam sem
escrúpulos, onde o dinheiro é mais importante do que qualquer coisa.
Você indigna-se vendo uma história de maldade. Imagine o protagonista,
um personagem bom e justo, que tinha tudo para ser um herói, e na
verdade era. Agora imagine que este protagonista é assassinado. A
crueldade da morte leva a vida de seu protagonista e a esperança de dar
um final surpreendente à sua história. Sua morte te choca, te
entristece, mesmo sendo ficção. Te comove. Você sente a perda. Dói,
mesmo sendo ficção.
Agora imagine que não é ficção. O que é narrado aconteceu de verdade.
Neste 28 de setembro, 36 anos do falecimento de Albino Luciani, o papa João Paulo I (na verdade, a morte do Papa, dentro do que se pode saber, situa-se
entre 21h30 de 28/9/78 e 4h30 de 29/9/78, mas, segundo as investigações do livro, a morte ocorreu após as 4h, após Luciani acordar, pois foi encontrado sentado), gostaria de deixar alguns trechos do livro "Em nome de Deus", do jornalista David Yallop. Uma obra que trás aspectos da vida, da eleição e da morte desse homem que teria tudo para mudar a história da Igreja Católica, e foi impedido. Difícil encontrar obras que falem da morte desse homem, um assunto espinhento, e que, por isso mesmo, não pode ser abafado.
Em Veneza, Albino Luciani continuava a usar as batinas deixadas por seu predecessor, o Cardeal Ubaldi. Durante todo o período do seu patriarcado, recusou-se a comprar outras, preferindo que as freiras que trabalhavam para ele as remendassem e tornassem a remendar. De qualquer forma,raramente usava as vestes de Cardeal e Patriarca, dando preferência a sua simples batina de padre.
Sua humildade pessoal acarretou muitas situações interessantes. Viajando de carro pela Alemanha, em 1975, em companhia do padre Senigaglia, o Cardeal chegou à cidade de Aachen. Desejava muito rezar no antigo altar da principal igreja local. Senigaglia ficou observando enquanto dirigentes da igreja comunicavam um tanto arrogantemente ao cardeal que o altar já fora fechado e que ele deveria voltar outro dia. Tornando a entrar no carro, Luciani traduziu a conversa para Senigaglia. Furioso, Senigaglia saltou do carro, foi até uma igreja e teve uma explosão em italiano com os responsáveis. Eles compreenderam o suficiente para descobrir que o pequeno sacerdote que haviam repelido era o Patriarca de Veneza. Agora, foi a vez de Luciani ficar furioso com seu secretário, enquanto era quase arrastado do carro pelos sacerdotes alemães. Enquanto Luciani entrava na igreja, um dos padres murmurou-lhe:
- Um pouco de vermelho, por menos que seja, poderia ser útil, eminencia.
Em outra ocasião, Luciani compareceu a uma conferência sobre ecologia, em Veneza.ficou profundamente absorvido em conversa com um dos participantes. Desejando continuar o diálogo, convidou o ecologista a visitá-lo em sua casa.
- Onde você mora? - perguntou o biólogo.
- Ao lado da Igreja de São Marcos - respondeu Luciani.
- No Palácio do Patriarca?
- Isso mesmo.
- E a quem devo chamar?
- Diga que quer falar com o Patriarca.
Foto histórica. O sacerdote ajoelhado era o Arcebispo de Munique, Joseph Ratzinger. 27 anos depois, seria eleito Papa Bento XVI. Fonte: http://www.snpcultura.org/albino_luciano_nasceu_ha_100_anos_e_tornou_se_joao_paulo_i_papa_sorriso.html
Albino Luciani tinha ideias definidas sobre dinheiro e riqueza, especialmente a riqueza da Igreja. Algumas dessas ideias derivavam de Rosmini [Antonio Rosmini, padre e filósofo, que inspirou Luciani em sua tese de Doutorado], outras diretamente de sua experiência pessoal. Acreditava numa Igreja Católica dos pobres e para os pobres. As ausências compulsórias do pai, a fome e o frio, os sapatos de madeira com pregos extras nas solas para que não gastassem, cortar capim nas encostas das montanhas para aumentar a escassa alimentação da família, os longos períodos no seminário sem ver a mãe, que não tinha condições de visitá-lo, tudo isso produziu em Luciani uma profunda compaixão pelos pobres, uma indiferença total à aquisição de riqueza pessoal e uma convicção de que a Igreja, a sua Igreja, não devia ser apenas materialmente pobre, mas também vista assim.
Luciani acreditava firmemente em praticar o que se pregava. Numa de
suas "cartas" a São Bernardo [coluna que ele escrevia no jornal
diocesano, quando Patriarca de Veneza. As cartas forma reunidas eu um
livro, Ilustrissimi, em italiano], discutira a virtude da prudência.
'Concordo
que a prudência deve ser dinâmica e deve exortar as pessoas à ação. Mas
há três estágios a se considerar: deliberação, decisão e execução.
Deliberação implica procurar os meios que levam ao fim. Baseia-se na reflexão, nos conselhos solicitados, na análise cuidadosa.
Decisão
significa, depois da análise dos diversos métodos possíveis, a opção
por um deles... A prudência não é uma gangorra permanente, a mente se
angustiando na incerteza; também não é espera interminável, a fim de se
decidir pelo melhor. Diz-se que a política é a arte do possível; de
certa forma, está certo.
Execução é o mais importante dos três estágios: a prudência, ligada com a força, evita o desânimo diante de dificuldades e obstáculos. É o momento em que um homem demonstra ser líder e guia.'
Trecho da conversa entre Luciani e Jean Villot, cardeal secretário de estado no papado de Paulo VI e Luciani, e um dos homens que tinha motivos e oportunidades para assassinar o papa:
Eminência, conversamos sobre o controle de natalidade durante cerca de 45 minutos. Se as informações forem corretas, se as estatísticas forem precisas, no período de nossa conversa mais de mil crianças com menos de cinco anos de idade morreram de desnutrição. Durante os próximos 45 minutos, enquanto nós dois aguardamos com expectativa a nossa próxima refeição, outras mil crianças morrerão de desnutrição. Amanhã, a essa hora, 30 mil crianças que se encontram vivas nesse exato momento estarão mortas de desnutrição. Deus nem sempre provê.
Frase que Luciani teria dito, já papa, a um amigo padre do norte da Itália:
Já notei que há duas coisas que parecem estar em escassez no Vaticano: honestidade e um bom café.
O Vaticano é incomparável no negócio de Espionagem. Basta considerar o número de padres e freiras existentes no mundo, todos jurando fidelidade à Roma.
Mais uma conversa de Luciani com Villot:
Será dito também que traí a João [Papa João XXIII]. Traí a Pio [Papa Pio XII]. Cada um formulará sua própria lista, de acordo com suas conveniências. Minha preocupação é não trair a Jesus Cristo.
Relatos do dia da morte de João Paulo I:
Ao lado da cama do Papa, na mesinha de cabeceira, estava o medicamento que Luciani vinha tomando para pressão baixa. Villot guardou no bolso o vidro de remédio e retirou das mãos do Papa morto as anotações sobre as transferências e nomeações papais que também guardou. Da escrivaninha no gabinete foi removido o testamento de Luciani. E também desapareceram do quarto os óculos e os chinelos do Papa. Nenhuma dessas coisas jamais foi vista outra vez. Villot criou então, para os aturdidos membros do círculo papal, um relato totalmente fictício das circunstâncias que levaram à descoberta do corpo. Impôs um voto de silêncio sobre a descoberta da Irmã Vincenza [foi ela quem descobriu o corpo de Luciani] e determinou que a notícia da morte não seria revelada enquanto ele não autorizasse expressamente. Depois, sentado no gabinete papal, Villot fez uma série de ligações. Baseado no que disseram as testemunhas oculares que entrevistei, o remédio, os copos, os chinelos e seu testamento estavam todos no quarto e no escritório papal antes que Villot entrasse nos aposentos.após seu exame e visita inicial, todos os itens acima mencionados sumiram.
Às 7 horas, mais de duas horas depois da morte ter sido descoberta pela Irmã Vincenza, o mundo em geral ignorava que João Paulo I não estava mais vivo. Enquanto isso, a aldeia do Vaticano continuava a ignorar totalmente o édito de Villot. O Cardeal Benelli, em Florença, soube da notícia por um telefonema às 6h30. Dominado pela dor e chorando abertamente, retirou-se imediatamente para seu quarto e começou a orar. Todas as esperanças, sonhos e aspirações estavam destruídos. Os planos que Luciani fizera, as mudanças, a nova orientação, tudo dava em nada. Quando um Papa morre, todas as decisões ainda a serem anunciadas morrem com ele. A menos que seu sucessor decida adotá-las.
[Convenientemente, não foi o que ocorreu].
Para homens que nada tem a esconder, as ações de Villot e outros membros da Cúria Romana continuaram a ser incompreensíveis. Quando alguns homens conspiram para esconder alguma coisa, é porque existe algo a esconder.
Mais uma conversa de Luciani com Villot:
Será dito também que traí a João [Papa João XXIII]. Traí a Pio [Papa Pio XII]. Cada um formulará sua própria lista, de acordo com suas conveniências. Minha preocupação é não trair a Jesus Cristo.
Relatos do dia da morte de João Paulo I:
Ao lado da cama do Papa, na mesinha de cabeceira, estava o medicamento que Luciani vinha tomando para pressão baixa. Villot guardou no bolso o vidro de remédio e retirou das mãos do Papa morto as anotações sobre as transferências e nomeações papais que também guardou. Da escrivaninha no gabinete foi removido o testamento de Luciani. E também desapareceram do quarto os óculos e os chinelos do Papa. Nenhuma dessas coisas jamais foi vista outra vez. Villot criou então, para os aturdidos membros do círculo papal, um relato totalmente fictício das circunstâncias que levaram à descoberta do corpo. Impôs um voto de silêncio sobre a descoberta da Irmã Vincenza [foi ela quem descobriu o corpo de Luciani] e determinou que a notícia da morte não seria revelada enquanto ele não autorizasse expressamente. Depois, sentado no gabinete papal, Villot fez uma série de ligações. Baseado no que disseram as testemunhas oculares que entrevistei, o remédio, os copos, os chinelos e seu testamento estavam todos no quarto e no escritório papal antes que Villot entrasse nos aposentos.após seu exame e visita inicial, todos os itens acima mencionados sumiram.
Luciani, ao lado da maior falácia do século XX, Karol Wojtyla.
Às 7 horas, mais de duas horas depois da morte ter sido descoberta pela Irmã Vincenza, o mundo em geral ignorava que João Paulo I não estava mais vivo. Enquanto isso, a aldeia do Vaticano continuava a ignorar totalmente o édito de Villot. O Cardeal Benelli, em Florença, soube da notícia por um telefonema às 6h30. Dominado pela dor e chorando abertamente, retirou-se imediatamente para seu quarto e começou a orar. Todas as esperanças, sonhos e aspirações estavam destruídos. Os planos que Luciani fizera, as mudanças, a nova orientação, tudo dava em nada. Quando um Papa morre, todas as decisões ainda a serem anunciadas morrem com ele. A menos que seu sucessor decida adotá-las.
[Convenientemente, não foi o que ocorreu].
Para homens que nada tem a esconder, as ações de Villot e outros membros da Cúria Romana continuaram a ser incompreensíveis. Quando alguns homens conspiram para esconder alguma coisa, é porque existe algo a esconder.
Angelus de 3 de setembro de 1978. 25 dias depois, ele estaria morto.
Texto deste Angelus em portugês em albino-luciani.com.
2 comentários:
Pq Joao Paulo 2 foi uma falacia ?
Porque ele nunca foi um santo. Um santo, detentor do poder que ele teve, não deixaria crimes acontecerem embaixo do nariz e não faria nada.
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