#75 –15/03/16 – “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”
Composição: Geraldo Vandré
Interpretação: Geraldo Vandré
Nenhum outro festival foi tão grande
e antológico como o III Festival de Música Popular Brasileira, mas não
significa que não houveram pérolas musicais nas décadas de 60 e 70. Este
festival ainda existiu até 1969, transmitido pela TV Record. Em 1966, iniciou-se o
FIC – Festival Internacional da Canção – organizado e transmitido pela TV Globo
e pela TV Rio, realizado ininterruptamente até 1972. Foi neste festival que
surgiu aquela que, talvez, seja a mais conhecida canção desta época. E de todas.
O ano era 1968. Realizava-se a
terceira edição do FIC. Entre todas as canções, América, América, de César
Roldão Vieira, se destacava pela violenta critica aos militares. Além dela,
outra música trazia forte mensagem de protesto. Mais do que isso, sua melodia
fácil, sua letra simples – e por isso mesmo, genial, ganhou o coração do
público. Ao final, Pra não Dizer que Não Falei das Flores, ou simplesmente
Caminhando, como ficou historicamente conhecida, de Geraldo Vandré (aquele que escreveu Disparada) ficou em segundo lugar,
enquanto a bela (porém não tão contundente) Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim, foi a vencedora. América, América sequer apareceu entre as
vencedoras. Ainda, Caetano Veloso, vaiado por É proibido proibir, discursou
raivosamente, declarando que jamais participaria de festivais. Este resultado bagunçado foi
devastador. O júri foi não apenas impetuosamente vaiado, mas agredido
fisicamente. Os carros dos jurados foram depredados. A reação do público contra
Sabiá provocou um emocionante discurso de Vandré, em profundo respeito à Chico,
Tom e os jurados. O áudio do discurso e da canção existe, mas o vídeo é um dos poucos, se não o único, que foi misteriosamente perdido.
Não existe mais (ou existe, eis a questão) registro visual da apresentação
original de Caminhando.
A reação dos próprios jurados, na época,
foi devastadora. Bibi Ferreira, chocada, afirmava que a vencedora deveria ter
sido Caminhando. Ziraldo jurava que sua nota era 10 para a canção, e 5 para as
demais. O resultado era claramente manipulado. Somente 23 anos depois, Walter
Clark, diretor geral da Globo na época do festival, afirmou, em sua
autobiografia, que sim, a emissora dona do acre abriu as pernas para o governo
(hoje, o governo abre as pernas para ela), que recomendou que América,
América ou Caminhando não vencessem o festival.
O resultado da censura é que
Caminhando se tornou uma das canções mais icônicas e conhecidas da música brasileira.
Não há quem não conheça os versos vem, vamos embora, que esperar não é saber,
quem sabe faz a hora, não espera acontecer. A música se tornou um hino contra a
ditadura, com seu poema absurdamente simples, cru, chocante, verdadeiro e
comovente. Caminhando foi proibida de ser executada durante mais de dez anos, e
influenciou o exílio de Vandré, o gênio incompreendido, mas tudo valeu a pena, tenho certeza que,
também, para o autor. A censura não calou a voz da Arte e da Verdade.
[entrevista concedida para a GloboNews (o mundo dá voltas), onde Vandré fala de sua relação com os militares da ditadura, e sua saída do mundo da música]
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...
Nenhum comentário:
Postar um comentário