#250 – 06/09/16 – “Guacurary”
Composição: Família Castro
Interpretação: Bada Castro
Existem muitas formas de lutar por uma pátria. Existem
muitas formas de pegar em armas, e, às vezes, é melhor o sangue não ser
derramado em vão. O território brasileiro é vasto, sua história se confunde com
a colonização portuguesa e espanhola. No extremo sul da América do Sul,
territórios argentino, brasileiro e uruguaio se misturaram numa babel de
colonizadores e exploradores, que racharam essas terras da melhor forma que
lhes convinham, sem pensar em cultura e povo. A colonização desta região é tão bagunçada que
incita movimentos separatistas com justificativas de dar pena em pleno século XXI. O fato é que
muito sangue inocente dos povos nativos do continente foi derramado, em vão,
por uma colonização egoísta, efetivada pensando apenas no interesse do europeu.
Nessa balburdia de divisões territoriais, uma figura se
destacou, a fim de defender o território sul americano do europeu. Seu local de
nascimento é incerto (ainda mais quando a terra onde nasceu passava de mão em mão entre
Espanha e Portugal, na época). Sua morte é um mistério. Seu nome tem três
versões distintas. Os uruguaios chamam-no Andres Artigas, no Brasil, foi
conhecido como André Taquari. Para os argentinos (que ergueram um monumento em
sua homenagem), é Andres Guaçurari, ou Guacurari, ou ainda Guacurary. Sua vida
incerta somente registrou uma certeza para a história: ele lutou bravamente em
territórios uruguaio, argentino e brasileiro, neste último, na região da atual
cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul, que, na época, integrava os Sete Povos
das Missões, terra em disputa constante entre Portugal e Espanha.
Guacurary lutou contra o domínio europeu, defendo a terra ao seu legítimo dono,
o povo Guarani, povo do qual ele nascera. Chegou a ter vitórias,
mas sucumbiu diante da colônia portuguesa, que chegou a levá-lo para o Rio de
Janeiro. De lá, desapareceu, por volta de 1821, e nunca mais se ouviu falar
dele.
Os Sete Povos das Missões racharam, entre Portugal e Espanha (isso talvez
explique o tão pouco apreço do povo gaúcho pelo Brasil, afinal, nunca tiveram
pátria). Um ano depois, o Brasil tornou-se independente. Os movimentos
separatistas permaneceram, afinal, um país criado por negócios é uma pátria
frágil, como o é até hoje. A figura de Guacurary foi um pouco apagada da
história. Um dos maiores pesquisadores de sua vida foi o advogado e folclorista
Antônio Augusto Fagundes, que faleceu no ano passado. Assim, aos poucos a
história enfraquece, se perde. E a busca por uma pátria parece escorrer pelo
chão, como o sangue inocente.
(A canção "Guacurary" foi vice campeã da X Sapecada da Canção Nativa (2002), festival de musica nativista em Lages, SC. Bada Castro é um músico lageano que, na ocasião, apresentou-se ao lado de seus familiares.)
Quem é esse sujeito
De cor Guarani
Rude blandengue
Que chega sem jeito
Da Banda Oriental
Clarim libertário
Guardado no peito
Clarim libertário
Guardado no peito
Quem é esse sujeito
De cor Guarani
Rude blandengue
Que chega sem jeito
Da Banda Oriental
Clarim libertário
Guardado no peito
Clarim libertário
Guardado no peito
Guacurary, ai
Lá vem Andresito
Terra vermelha da raça que cai
Guacurary, ai
Espada na mão
Tingindo de sangue o velho Uruguay
O velho Uruguay
Vão voltigeiros
Na garupa na sorte
Ferrados de pedra
Os cavalos ligeiros
Vão voltigeiros
Saltando pra morte
Formando quadrados
Cruéis granadeiros
Último tento
Trança desfeita
Berra o índio
Lanças ao vento
Galope infinito
Chefe se rende
Dor e tormento
Dor e tormento
Nas trevas, horrores
No azul, as nuvens
Livre gaudéria tropilha de flores
Dele sinuelo fiel
Nesse eterno anseio
De luz, paz e amores
Nesse eterno anseio
De luz, paz e amores
Guacurary, ai
Lá vai Andresito
Terra vermelha da raça que sai
Guacurary, ai
Flores na mão
Tingindo de azul um novo Uruguay
Um novo Uruguay...
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