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terça-feira, 6 de setembro de 2016

#366Acordes - Acorde #250 - Guacurary


#250 – 06/09/16 – “Guacurary”
Composição: Família Castro
Interpretação: Bada Castro
               
Existem muitas formas de lutar por uma pátria. Existem muitas formas de pegar em armas, e, às vezes, é melhor o sangue não ser derramado em vão. O território brasileiro é vasto, sua história se confunde com a colonização portuguesa e espanhola. No extremo sul da América do Sul, territórios argentino, brasileiro e uruguaio se misturaram numa babel de colonizadores e exploradores, que racharam essas terras da melhor forma que lhes convinham, sem pensar em cultura e povo. A  colonização desta região é tão bagunçada que incita movimentos separatistas com justificativas de dar pena em pleno século XXI. O fato é que muito sangue inocente dos povos nativos do continente foi derramado, em vão, por uma colonização egoísta, efetivada pensando apenas no interesse do europeu.

Nessa balburdia de divisões territoriais, uma figura se destacou, a fim de defender o território sul americano do europeu. Seu local de nascimento é incerto (ainda mais quando a terra onde nasceu passava de mão em mão entre Espanha e Portugal, na época). Sua morte é um mistério. Seu nome tem três versões distintas. Os uruguaios chamam-no Andres Artigas, no Brasil, foi conhecido como André Taquari. Para os argentinos (que ergueram um monumento em sua homenagem), é Andres Guaçurari, ou Guacurari, ou ainda Guacurary. Sua vida incerta somente registrou uma certeza para a história: ele lutou bravamente em territórios uruguaio, argentino e brasileiro, neste último, na região da atual cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul, que, na época, integrava os Sete Povos das Missões, terra em disputa constante entre Portugal e Espanha. Guacurary lutou contra o domínio europeu, defendo a terra ao seu legítimo dono, o povo Guarani, povo do qual ele nascera. Chegou a ter vitórias, mas sucumbiu diante da colônia portuguesa, que chegou a levá-lo para o Rio de Janeiro. De lá, desapareceu, por volta de 1821, e nunca mais se ouviu falar dele. 

Os Sete Povos das Missões racharam, entre Portugal e Espanha (isso talvez explique o tão pouco apreço do povo gaúcho pelo Brasil, afinal, nunca tiveram pátria). Um ano depois, o Brasil tornou-se independente. Os movimentos separatistas permaneceram, afinal, um país criado por negócios é uma pátria frágil, como o é até hoje. A figura de Guacurary foi um pouco apagada da história. Um dos maiores pesquisadores de sua vida foi o advogado e folclorista Antônio Augusto Fagundes, que faleceu no ano passado. Assim, aos poucos a história enfraquece, se perde. E a busca por uma pátria parece escorrer pelo chão, como o sangue inocente.


 (A canção "Guacurary" foi vice campeã da X Sapecada da Canção Nativa (2002), festival de musica nativista em Lages, SC. Bada Castro é um músico lageano que, na ocasião, apresentou-se ao lado de seus familiares.)


Quem é esse sujeito
De cor Guarani
Rude blandengue
Que chega sem jeito
Da Banda Oriental
Clarim libertário
Guardado no peito
Clarim libertário
Guardado no peito 


Quem é esse sujeito
De cor Guarani
Rude blandengue
Que chega sem jeito
Da Banda Oriental
Clarim libertário
Guardado no peito
Clarim libertário
Guardado no peito 
 
Guacurary, ai
Lá vem Andresito
Terra vermelha da raça que cai
Guacurary, ai
Espada na mão
Tingindo de sangue o velho Uruguay
O velho Uruguay
 
Vão voltigeiros
Na garupa na sorte
Ferrados de pedra 
Os cavalos ligeiros
Vão voltigeiros
Saltando pra morte
Formando quadrados
Cruéis granadeiros
 
Último tento
Trança desfeita
Berra o índio
Lanças ao vento
Galope infinito
Chefe se rende
Dor e tormento
 Dor e tormento 
 
Nas trevas, horrores
No azul, as nuvens
Livre gaudéria tropilha de flores
Dele sinuelo fiel
Nesse eterno anseio
De luz, paz e amores
Nesse eterno anseio
De luz, paz e amores
 
Guacurary, ai
Lá vai Andresito
Terra vermelha da raça que sai
Guacurary, ai
Flores na mão
Tingindo de azul um novo Uruguay
Um novo Uruguay...





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