Memórias Póstumas de Brás Cubas
Machado de Assis
Não, as histórias de Machado não são legais.
Pelo menos, não como um Harry Potter, um Stephen King. Mas, ao contrário de Dan
Bronws da vida, que escrevem em carbono histórias de suspense desprovidas de
qualquer originalidade, que agarram leitores adeptos de vidas medíocres e que
se agarram em conspirações furadas, como eu, Machado escreve na desgraçada
linguagem predominante no fim do século XIX no Brasil, mas escreve com uma
maestria difícil de ser encontrada, até hoje. Na verdade, os romances
brasileiros eram muito piores, com algumas minguadas exceções, muito mais
monótonos antes de Machado. Foi ele, com Quincas Borba e o maldito Dom
Casmurro, que deu ironia, realismo e qualidade aos romances brasileiros. É
fundamental ler pelo menos duas obras de Machado, um dos maiores escritores
brasileiros de todos os tempos – pelo consenso geral, o maior, mas eu tenho
minhas parcas dúvidas. Com uma linguagem refinada sem ser pedante, e carregado
de ironia, Machado é um ícone para quem quer escrever com crítica e
inteligência, pois ele fez isso no seu tempo. E Memórias póstumas de Brás Cubas
é mais um exemplo da genialidade desse homem. Em pleno século XIX, Machadão
cria uma história onde o protagonista é um defunto. Pode parecer apenas
engraçado hoje, mas imagine-se naquela sociedade patética do Brasil do século
XIX, e vem um mulato escrevendo um livro onde o narrador dedica sua obra aos
vermes que estão comendo sua carne. Isso é demais, é quase George Romero. Não
espere ação e aventura. De jeito nenhum. Mas com certeza aguarde uma crítica
seca da sociedade, como Machado sempre fazia, através do seu protagonista
narrador, o defunto Brás Cubas, que conta sua vida de trás para frente, a
partir do momento de sua morte, e segue em digressão pela sua vida.
Completamente desprovido do meloso tom romântico preponderante na literatura
brasileira até as ultimas décadas do século XIX, Brás Cubas é a pura critica ao
ser humano, como ser social e como criatura. É o primeiro romance psicológico da
literatura brasileira.
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