Submarino

domingo, 2 de junho de 2013

#365Livros - #Livro153 - MORTE SÚBITA

Morte Súbita
J. K. Rowling

Morte súbita é um soco no estômago. Um tratado do brilhantismo da mãe de Harry Potter, que é mais do que uma escritora infantil. É uma escritora que, como já mostrara em HP, sabe como ninguém escrever sobre a vida humana, sobre a hipocrisia do ser humano e sobre as coisas que realmente importam. Terminei de ler este livro no último sábado, com a esperança de que, a despeito de crepúsculos, autoajudas e todas as porcarias que vemos vendendo nas livrarias, ainda existe esperança na literatura.
Barry Fairbrother morre tão rapidamente quanto aparece no livro. Nem temos tempo de nos apegar a ele, e no entanto sua incomoda figura assombra a história toda, carrega consigo o peso de uma história dramática e autentica do inicio ao fim. Barry representava a classe que não queria a separação de Fields, o “bairro de periferia” de Pagford, uma típica cidade pequena britânica. Com sua morte, a facção contraria a separação enfraquece, e percebe-se que não existia uma facção de verdade, mas sim a imagem de Barry, um homem encantador para todos e não tão encantador para quem convivia com ele dentro de casa, dia após dia. Sua morte desenrola as peças desse “dominó humano”, como diz a orelha do livro, um leque de personagens fascinantes, retratos perfeitos da hipocrisia do ser humano. No entanto, não há como não citar, dentre Howard, Shirley, Samantha, Bola, Andrew, Tessa, Simon, Gaia, Parminder, Sukhvinder, Terri e outros, a figura de Krystal Weedon, um retrato Vigotskiano, uma jovem de coração ingênuo, fruto de Fields, da pobreza, violência, das drogas – sim, isso existe na Inglaterra também. Krystal era protegida de Barry Fairbrother, que deixava de lado a esposa e as filhas para se preocupar com uma jovem semi desconhecida. Estava errado? Não, apenas deveria ser tão preocupado e amoroso com quem estava dentro do seu lar. Não adianta ser um primor de pessoas com desconhecidos, que merecem sim nossa piedade, mas ser indiferente com o que há de mais importante em nossas vidas: nossa própria família. A imagem imaculada de Barry desconstrói-se brilhantemente ao longo do livro, junto com a perfeição figurada de Pagford. Os podres das peças humanas surgem como a luz do sol no amanhecer, e a figura de Krystal ergue-se, não como perfeita, mas como verdadeira e límpida de caráter, a despeito de seus palavrões, sua malicia e seu cigarro. Krystal fez o que Barry não fez: amou sua família, com todos os seus defeitos. Com um final de socar o estômago e fazer escorrer lágrimas dos olhos, Jo Rowling criou uma obra prima da literatura, um retrato do que o ser humano é e do que pode ser, se quiser. Leitura obrigatória para todos que querem ser uma pessoa melhor.

Rainha.

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