Novamente estive pensando sobre o
livro 1984, de George Orwell. É difícil falar sobre manipulação de massa sem
falar de classes sociais, ou vice-versa. Você já parou para pensar que a classe
baixa (eu não gosto dessa definição) é que move o mundo financeiro? É o
trabalho deles, o esforço deles, o resultado deles - que obtém este resultado
muitas vezes sem entendê-lo muito bem, ou sem compreender o que estão fazendo –
que faz com que a economia gire. É triste, mas é a realidade.
Assim que a Idade
Média acabou, e os senhores feudais se foram, uma nova forma de economia e
classificação social entrou em vigor: havia os nobres, os burgueses e a classe
operária. O nobre era assim chamado não apenas por seu dinheiro e bens, mas por
sua origem, seu nome, sua família, sua influência na sociedade da época. Os
burgueses lá estavam apenas por seu dinheiro e seu comércio. E a classe
operária fazia o trabalho que era necessário para que tudo funcionasse. Sendo
assim, era impossível um burguês se tornar nobre, ou um operário se tornar
nobre. Havia um abismo entre a nobreza e o resto do povo. Um burguês poderia
perder seu dinheiro e seu negócio e se tornar um pobre operário. Um operário
poderia receber um bom dinheiro, ou economizar, ou se associar com outros
operários e se tornar burguês. Mas nenhum dos dois chegaria a ser um nobre.
NUNCA.
Hoje, nos consideramos libertos
desta distinção social. Ou pelo menos alguém nos disse que somos iguais. A
nossa Constituição afirma isso. A Igreja afirma isso. Mas somos realmente
iguais? Estamos realmente livres da distinção social? Não esqueça que estamos
falando de ECONOMIA, DINHEIRO, PODER. Somos iguais como seres humanos, e uns
são melhores que outros em conhecimento, inteligência e capacidade. Mas na
sociedade, há um abismo entre nós e os poderosos. E o pior, é que os pequenos
fazem a roda girar para manter a riqueza dos grandes. Isso é assim em todo
lugar.
Exemplo: Um poderoso homem de
negócios quer enriquecer ainda mais, e faz uma reunião com os CEOs de suas
empresas, pedindo mais lucro, mais desenvolvimento, mais retorno. Cada CEO
chega em sua empresa e reúne-se com seus gerentes de setor, traçando um plano
de vendas ou produção para aumentar os ganhos da empresa. Cada gerente repassa
as cobranças aos supervisores de sua área pedindo retorno. Os supervisores
implantam o novo plano, e exigem dos TRABALHADORES o retorno esperado: MAIS
PRODUÇÃO, MAIS VENDA, MAIS CLIENTES. E quando a classe operária realiza o que
foi exigido, muitas vezes por medo de demissão ou de avaliações comprometedoras,
o retorno que é obtido atinge quem? O HOMEM DE NEGÓCIOS, e, no máximo, os CEOs.
É assim que funciona. E o país caminha da mesma forma. O “povão” é necessário.
E quanto mais ignorantes, melhor.
Um povo ignorante não reclama! Um povo
ignorante se contenta com churrascos aos domingos, cerveja e mulheres gostosas
na TV! Um povo ignorante acha que a vida está ótima quando pode comprar um
carro parcelado em 60 vezes e uma geladeira nova parcelada em 12 vezes! Um povo
ignorante canta frases repetitivas que falam de sexo e bebedeira, e PENSA que é
feliz! E “a nobreza” quer mantê-los assim. Cantando e trabalhando. Enquanto a
classe operária puder ter na carteira meia dúzia de cartões de crédito e um
carro novo na garagem, está tudo bem. Evitam-se os livros com a televisão, onde
políticos falam que o Brasil é agora uma “potência mundial”, e o povo bate
palma.
Somos pobres ignorantes, mas ficamos bravos e magoados quando alguém
como o Ziraldo se levanta e afirma que somos pobres ignorantes! Não dá pra
entender. Nem precisamos de um Grande Irmão, já estamos manipulados, já somos,
como diz Zé Ramalho, “povo marcado, povo feliz”! E isso não vai mudar enquanto
a “classe baixa” não estiver disposta a abandonar o lixo que chama de cultura,
e estudar, progredir, cobrando para si um retorno real, e não um carro parcelado
em 60 vezes. A nobreza, a classe alta, quer nos dar um FALSO STATUS,
mantendo-nos presos a coisas que compramos sem precisar. Sabem como pensamos, e
sabem que, infelizmente, vivemos de aparência. E pra haver uma igualdade de
classes, precisamos deixar a aparência de lado, e cobrar o que é nosso. Não
precisamos ser milionários, mas queremos apenas o que é nosso por direito, e que
no papel é um texto muito bonito, pena que não é verdade.
(Mafalda - Quino)
Nenhum comentário:
Postar um comentário