Submarino

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Por que os vestibulares não pedem obras de lingua estrangeira?

Observando sites de vestibulares, averiguei as obras pedidas nos principais vestibulares do país. UNICAMP e USP pediram obras de Machado de Assis e Jorge Amado, entre outros.UFSC concentrou-se na obra de Manuel Antônio de Almeida e contemporâneos e em obras de catarinenses. UFPR também abrangeu textos do século XIX, além de obras de Clarice Lispector e Nelson Rodrigues. O manual do candidato da FUVEST afirma que o vestibulando deve apresentar "conhecimento das obras representativas dos diferentes períodos das literaturas brasileira e portuguesa. O conhecimento desse repertório implica a capacidade de analisar e interpretar os textos, reconhecendo seus diferentes gêneros e modalidades, bem como seus elementos de composição, tanto aqueles próprios da prosa quanto os da poesia. Implica também a capacidade de relacionar os textos com o conjunto da obra em que se insere, com outros textos e com seus contexto histórico e cultural". Justo, afinal moramos no Brasil, precisamos ter um mínimo de conhecimento do país em todos os seus aspectos, inclusive na literatura. No entanto, pedir aos candidatos a leitura exclusiva de obras de literatura em língua portuguesa, para aplicar os conhecimentos da disciplina de literatura, é uma regra que precisa ser revista.
Não gosto de literatura brasileira em geral, principalmente literatura do século XIX e inicio do século XX – nicho mais requisitado nos vestibulares. Assumo, mas assumo também, como anteriormente, a importância dessa literatura no vestibular. Mas não é por gosto pessoal que me oponho radicalmente à presença exclusiva dessas obras, isso seria de uma infantilidade da minha parte que não valeria sequer meu texto ser lido por você. Tampouco é em detrimento das obras antigas – Os miseráveis é uma obra de 1862, e dispensa comentários. É atual até hoje. O problema é a visão estreita presente nas provas de vestibular. Os livros requeridos para leitura deveriam ser uma oportunidade de apresentar obras singulares ao estudante, que exercitassem com prazer e aprendizado sua capacidade de interpretação de texto e critica social. No entanto, resumem-se a obras que trabalham o que deveria ser desenvolvido na prova de língua portuguesa, e desenvolvem uma atividade maçante na cabeça do vestibulando. Prestei vestibular em 2005, e afirmo que nada é mais deprimente para um estudante do que seu professor de português, arremessando nas nossas cabeças aula após aula os mesmos livros, ano após ano. Não é uma questão de gosto, é de organização!



Esses títulos são apenas alguns exemplos de obras memoráveis que deveriam constar em qualquer lista de obras para vestibular, obras que instigam o leitor para uma análise crítica da sociedade, e obras que podem ter um olhar atual, independente da época em que se passam. Seria uma oportunidade única de apresentar ao vestibulando obras geniais, e dar a ele a chance de exercitar de forma impar sua interpretação de texto, o que, repito, deveria ser o papel das obras pedidas, ao contrario do que ocorre normalmente, onde as obras são inseridas na prova de literatura. Não! Deem aos estudantes uma chance de dialogar a respeito de livros na prova de vestibular, e deixem os aspectos da literatura portuguesa e brasileira serem aprofundados exclusivamente na prova de literatura. Permitam uma nova analise para os futuros universitários, não os façam lerem 10 obras brasileiras que com certeza se perderão em suas mentes. Criem pessoas criticas, instiguem essa juventude com livros polêmicos e memoráveis. Não peço para retirarem todas as obras brasileiras, afinal é muito mais edificante ler O quinze do que qualquer livro de Nicholas Sparks. Acho apenas muito mais importante um jovem ler Guerra e paz do que qualquer coisa de Nelson Rodrigues. Não é uma questão de gosto, mais uma vez, gosto é algo individual. É uma questão de bom senso. E que tem bom senso faz tudo com parcimônia e equilíbrio. E infelizmente não é o que ocorre no nosso país. Se as crianças fossem instigadas a ler desde a infância, e tivessem uma abrangência melhor de livros em seu currículo escolar, com certeza seria adultos muito mais capazes e corretos. E, com certeza, jamais deixariam Por uma vida melhor fazer parte do currículo escolar.

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