Submarino

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fúria de Titãs

Esta é a opinião de um crítico, o Maurício Muniz. Não é a minha opinião. Aliás, eu tenho uma certa marcação com críticos. Mas achei interessante a maneira como o filme foi abordado, e resolvi reproduzir o texto na íntegra:


                    Pra começar, uma confissão que pode ser considerada como sacrilégio para alguns: nunca fui fã do Fúria de Titãs original, de 1981. A história era boba, as interpretações exageradas e faltava emoção à aventura. Nem os efeitos do grande Ray Harryhausen, que sempre amei, pareciam funcionar muito bem. E aquela coruja mecânica era insuportável, um protótipo de Jar Jar Binks que deveria cair no esquecimento o mais rápido possível.
                    Assim, como Hollywood cada vez parece ter menos ideias originais – ou, ao menos, parece cada vez menos propensa a investir nessas ideias – chegamos a 2010 e à refilmagem desse “clássico”. O diretor Louis Leterrier (O Incrível Hulk) diz que este foi o filme mais marcante de sua infância e por isso trabalhou na nova versão com amor. Na verdade, amor por exageros… mas voltaremos a esse assunto daqui a pouco.
                    A história ainda é simples: o orfão Perseus (Sam Worthington) tem sua família adotiva morta após um encontro com o furioso deus Hades (Ralph Fiennes), irmão do todopoderoso Zeus (Liam Neeson). Quando a cidade de Argos é ameaçada de destruição pelo monstruoso Kraken caso não sacrifique aos deuses a bela princesa Andrômeda (Alexa Davalos), o deprimido Perseus a) descobre que é filho de Zeus e, portanto, um semideus; b) reúne um grupo de guerreiros para tentar achar uma forma de vencer o Kraken; e c) parte para uma aventura morna onde, sinceramente, pouca coisa realmente acontece.
                    Não vamos contar detalhes da trama aqui, mas qualquer um que tenha visto o filme original sabe que ela não é muito complexa. É algo na linha de:
- Ok, vamos perguntar a fulano como matar o monstro.
- Xi, precisamos usar tal coisa pra matar o monstro.
- Oba, pegamos aquilo que pode matar o monstro.
- Ei, monstro, olha pra cá!
                    Claro, há uns seres mitológicos pelo caminho, lições para o novo deus, reis corneados deformados e uma insinuaçãozinha de romance com a nem-tão-imortal Io (a gracinha Gemma Arterton, de 007 Quantum of Solace) que segue os heróis na aventura e, pra sorte de todos os envolvidos – na tela e assistindo ao filme – toma o lugar da coruja Bubo. Desta vez também temos um subtexto razoavelmente interessante sobre os homens encontrarem-se revoltados com os deuses – compreensível, já que as tais divindades parecem apenas ignorar os humanos ou enviar pragas e destruição sobre eles. Aliás, ninguém neste mundo pode dizer que é ateu, já que os deuses baixam na Terra a todo momento pra arrumar confusão, fazer ameaças e reclamar do preço da conta de luz no Olimpo (ok, essa última parte é mentira, mas não me espantaria se acontecesse,).
O elenco de coadjuvantes, a maioria atores ingleses, está competente e, em especial, o talentoso Madds Mikkelsen (o vilão de 007 Cassino Royale) está ótimo – e quase irreconhecível – como um guerreiro sério e heróico que ensina a Perseus como deixar de ser chorão. Porém, por melhor que o elenco seja, é fácil notar que todos os atores que interpretam deuses parecem um tanto teatrais na maioria de suas cenas. E toda vez que Ralph Fiennes aparece envolto em fumaça negra, flutuando com cara de mau, prepare-se para conter a vontade de gritar “Corram, é Voldemort”.
                    Mas o que mais incomoda no filme é que, em sua vontade de deixar tudo mais grandioso, Leterrier consegue apenas criar exageros atrás de exageros. O Kraken é muito maior, os escorpiões gigantes são mais gigantes e a Medusa, antes uma mulher com serpentes na cabeça, agora é uma MULHER-SERPENTE com serpentes na cabeça. A concepção visual de todas as criaturas é interessante, sim, mas tudo é tão exagerado que a intenção parece ser esconder o quanto o contexto geral é vazio. Agora, imagine tudo isso temperado pelo 3D mais inútil e mal-utilizado da memória recente e temos a receita perfeita para duas horas de dor de cabeça (e se você conseguir NÃO tirar os óculos da “terceira dimensão” em alguns momentos de calmaria durante o filme, parabéns: é mais forte do que eu).
                    Quem sabe as coisas melhoram nos próximos dois filmes que Leterrier quer fazer com os personagens e que, parece, conseguirá já que este fez sucesso nas bilheterias. Com sorte, até lá a moda do 3D vai ter passado e os executivos de cinema e o público terão percebido que elE mais subtrai do que acrescenta à experiência de ver um filme na tela grande.
                     Mas, por favor, não tragam a coruja chata de volta! Entre ela e o 3D, fico com o último…

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