Submarino

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Carl Sagan (parte I)

                    A partir de hoje trarei aqui alguns textos de autoria de Carl Sagan, o grande astrônomo e divulgador da Ciência. Este homem foi um ser humano incrível, e seus livros mudaram a maneira de ver o mundo de muita gente. Eu li "Bilhões e Bilhões", um livro incrível, onde ele fala do nosso dever de preservar o planeta, o qual ele vê como nossa casa. E tambem fala de sua luta contra a doença que tirou sua vida.
Em 1988, ele foi convidado a escrever um artigo sobre o relacionamento entre EUA e União Soviética. O artigo seria publicado simultaneamente nos periódicos de maior circulação nos dois países. Nessa época, Mikhail Gorbachev tateava para dar aos cidadãos soviéticos um pouco de liberdade de expressão e Ronald Reagan tentava mudar lentamente sua postura de “Guerra Fria”. Algumas frases e palavras foram consideradas “perigosas” para o cidadão soviético médio e consequentemente modificadas de acordo com a vontade do governo soviético. Vale a pena ler:



                    “Se ao menos os extraterrestres estivessem prestes a invadir a Terra, disse o presidente norte-americano ao secretário-geral soviético, então os nossos países poderia se unir contra um inimigo comum. Na verdade, há muitos exemplos de adversários mortais, engalfinhados durante gerações, que deixaram de lado as diferenças para enfrentar uma ameaça ainda mais urgente: as cidades-estados gregas contra os persas; os russos e os polovtsys (que tinham saqueado Kiev) contra os mongóis; ou, quanto a isso, os norte-americanos e os soviéticos contra os nazistas.



                    Uma invasão alienígena é evidentemente improvável. Mas há um inimigo incomum – na verdade, uma série de inimigos comuns, alguns de ameaça sem precedentes, todos peculiares à nossa época. Derivam de nossos crescentes poderes tecnológicos e de nossa relutância em abandonaras vantagens visíveis de curto prazo pelo bem-estar de mais longo prazo de nossa espécie.



                    O ato inocente de queimar carvão e outros combustíveis fósseis aumenta o efeito estufa do dióxido de carbono e eleva a temperatura da Terra, de modo que em menos de um século, segundo algumas projeções, o meio-oeste norte-americano e a Ucrânia soviética – atuais celeiros do mundo – podem ser convertidos em algo parecido com os desertos de vegetação enfezada. Gases inertes, aparentemente inofensivos, usados para a refrigeração, diminuem a camada protetora de ozônio. Aumentam a quantidade da mortal radiação ultravioleta do Sol que chega até a superfície da Terra, destruindo grande número de microorganismos desprotegidos que estão na base de uma cadeia alimentar bem pouco compreendida – em cujo topo precariamente oscilamos. A poluição industrial norte-americana destrói as florestas no Canadá. Um acidente num reator nuclear soviético põe e perigo a antiga cultura da Lapônia. Epidemias grassam por todo o mundo, aceleradas pela moderna tecnologia dos transportes. E inevitavelmente há outros perigos que, com nosso habitual foco arrogante de curto prazo, ainda nem sequer descobrimos.



                    A corrida de armas nucleares, iniciada em conjunto pelos Estados Unidos e pela União Soviética, transformou o planeta numa armadilha com 60 mil armas nucleares – número mais do que suficiente para eliminar as duas nações, pôr em risco a civilização global e talvez até acabar com o experimento humano de 1 milhão de anos. Apesar de protestos indignados de intenções pacíficas e de obrigações em tratados solenes para reverter a corrida de armas nucleares, os Estados Unidos e a União Soviética ainda conseguem construir um n úmero considerável de novas armas nucleares a cada ano, suficiente para destruir toda cidade de bom tamanho no planeta. Quando solicitados a se justificar, cada um aponta seriamente para o outro.

Um comentário:

silvo disse...

Me encanta Carl, saludos