Antes que comecem a me criticar - pois já fui chamado de petista, comunista, socialista e etc - quero lembrar que não sou da turma do "morreu, virou santo". Fidel era um ditador comunista e como todo ditador que se preze, matou muita gente, torturou muita gente, censurou a imprensa e mentiu muito (o que políticos de direita também fazem muito bem).
Ele nasceu em 13 de agosto de 1926 em Birán e morreu em Havana na noite de 25 de novembro deste ano. Admirava Marx e Lênin e acabou com a ditadura do Batista, que fugiu em 1º de janeiro de 1959. Interessante lembrar que Fulgêncio Batista era apoiado pelo governo americano, e por isso estava "tudo certo". Fidel tomou o poder, nacionalizou as indústrias, eliminou as dissidências e instalou um governo socialista autoritário unipartidário. Criou novas leis, dentre elas a lei da reforma agrária, melhorou a saúde e a educação, enfim, fez coisas que capitalistas não gostam.
Cubanos nos EUA comemoraram a morte de Fidel. Não sabem eles como Trump os ama. Brasileiros de esquerda elogiam Fidel. Brasileiros de direita comemoram sua morte. Vejo a morte de um líder, um líder cruel, um ditador comunista, mas um líder. Já fui criticado no twitter por chamá-lo de líder, mas estou avaliando-o não como exemplo de ser humano, mas como LÍDER.
Li em alguns sites listas de crimes de Fidel, e - por mais absurdo que isto seja - incluíram em seus crimes o fato de " tornar Cuba uma colônia da Rússia" e "quase causar uma guerra mundial nuclear". O mais triste é que o autor da matéria é um historiador. Gostar da Rússia agora é crime? Vejo o governo russo como um mal necessário, alguém que freia os EUA em sua ambição desmedida. O governo americano mete o bedelho em todos os países do mundo. Agentes dos EUA influenciam, torturam, matam, mentem, espalham boatos, criam protestos, derrubam governos e mandam nos países pobres, e ninguém chama isso de autoritarismo. Até a campanha para desacreditar Getúlio Vargas, o que culminou em sua morte, foi influenciada pela CIA. Os EUA quase causaram guerras mundiais nucleares em vários lugares do mundo (sem falar de Hiroshima e Nagasaki). Há postos militares americanos em todos os cantos do planeta, mas isso ninguém percebe. Se a Rússia não existisse, imagina quão maior seria a influência dos EUA em seu imperialismo econômico, cultural e político.
Fidel nos tempos da guerrilha
O mundo não estava preocupado com quem Fidel torturou ou matou. O mundo estava preocupado com o fato de Fidel ser um amigo da Rússia e estar ali na porta dos fundos dos EUA. Ouvi líderes de países dizendo que o socialismo não funcionou em Cuba. E o capitalismo funciona no mundo? Para a minoria rica e proprietária dos grandes conglomerados funciona. Para a classe média iludida com carros do ano funciona. Para os jovens que chamam de "objetivo de vida" uma existência baseada em aparência e status, funciona. Eu gostaria de saber quem se importa com a mão de obra praticamente escrava que produz a tecnologia do mundo, quem se importa com os braços cansados que produzem nossos alimentos numa terra que não é sua. Quem se importa? Alguém se importa com as crianças feitas soldados nas guerras civis da África? Com o refugiados árabes? Com as minorias étnicas? Alguém se importa? É ignorância pensar que o capitalismo funciona. Aceitamos e vivemos num mundo capitalista porque não temos escolha, não mandamos no mundo, não mandamos sequer em nossas vidas e nunca mandaremos. O socialismo não funcionou. O comunismo não funcionou. Talvez, se fosse feito exatamente o que Marx pensou, teríamos um mundo diferente, mas ninguém compreendeu. E não são os sistemas econômicos o problema, mas os seres humanos gananciosos que comandam os países.
Fidel morreu, e com ele morreu uma era de lutas contra o imperialismo americano. Um líder, um criminoso, um lutador, um ditador assassino. Sem ele, Cuba seria hoje um outro Haiti, uma colônia americana produtora de açúcar, destruída pelo tráfico de drogas. Alguém se importa com o Haiti? Há muitos ditadores por aí, eles apenas não usam esse título. Há muitos assassinos que usam a mão de agentes secretos para cometerem seus crimes. Há muitos criminosos comandando países poderosos, eles usam terno e gravata em lugar de uniformes militares.