Submarino

domingo, 5 de julho de 2015

A História Amarga do Açúcar

Por volta de 327 a. C durante as campanhas de Alexandre Magno na Índia, chegaram à Europa notícias sobre a existência de “uma espécie de bambu que produzia mel sem intervenção de abelhas, servindo também para preparar uma bebida inebriante” (historiador português Henrique Parreira).

A Saccharum officinarum, espécie de cana dominante no mundo, é uma gramínea originária da região onde hoje é Papua Nova Guiné, zona tropical do Oceano Pacífico, onde foi domesticada por populações tribais há mais de 7 mil anos, de onde se propagou para a Índia e China. No século III fabricava-se na China, a partir da cana, um produto identificado pelos ideogramas “pedra” e “mel”.

Quando começou a ser cultivada no Brasil, a cana tornou-se símbolo do desmatamento e da mudança econômica da colônia portuguesa. Em seu livro Nordeste, de 1937, Gilberto Freyre descreve bem a entrada da cana na região:

“Um conquistador em terra inimiga, matando as árvores, secando o mato, afugentando e 
destruindo os animais e até os índios, querendo para si toda a força da terra”.

Em 1570, havia apenas 60 engenhos no Brasil, e em 1630, já eram 350, produzindo mais de 20 mil toneladas de açúcar por ano. Havia um dito popular que explicava a situação da colônia: 

“Sem açúcar não há Brasil, sem escravidão, não há açúcar, sem Angola, não há escravos”.

Ilustração: Engenho de açúcar no Brasil no século XVII

A floresta tropical nativa, aos olhos dos produtores, era apenas um estorvo à produção do açúcar, que tornou-se moeda, commodity, lucro inigualável na mão dos senhores do engenho, e causa principal da escravidão. Para cada quilo de açúcar, quinze quilos de lenha era consumidos, e das árvores da floresta provinham até mesmo as caixas para seu transporte.

Ainda hoje, com o “desenvolvimento do comércio nacional e internacional do biocombustível”, confundem-se as palavras “desenvolvimento” e “desmatamento”, e o ciclo da cana-de-açúcar continua, com destruição “legalizada” de florestas em nome do progresso, e formas de trabalho em regime de semiescravidão. O doce do açúcar é suplantado pelo que nos conta a história amarga de anos de escravidão, desflorestamento, doenças causadas pelo consumo excessivo associado ao crescimento epidêmico de doenças como diabetes, obesidade e cáries dentárias, tudo isso em nome do “progresso econômico”.

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