Enquanto aguardava minha carona em um fim de tarde, comecei a ouvir solos de guitarra no apartamento que fica em cima da agência onde trabalho. É um cara que mora sozinho ali. E toca muito bem. Ouvindo sua guitarra com o som distorcido por um pedal de efeitos, lembrei-me também de tantos outros músicos bons que conheci: Mauricio Turatti, um nerd que toca teclado e violão como ninguém, e dá aulas de canto, e seu irmão Eurides Turatti, o guitarrista ex-integrante da banda lageana (!!!) Substrato, que toca muito bem violão, guitarra, contrabaixo, teclado, bateria e qualquer coisa de onde se possa tirar um som agradável. Lembrei também de que quando estava participando de um treinamento em Florianópolis, SC, vi em uma esquina próxima à Praça da Figueira um jovem que tocava maravilhosamente bem um saxofone, executando um blues com perfeição. E tantos outros... Em tantos lugares. Nas ruas, nas praças, nas favelas, fechados em apartamentos, tocando com fones de ouvido para não ouvir reclamações dos vizinhos que chamam muitas vezes a boa música de "barulho" e preferem ouvir michel teló (assim mesmo, com minúscula, igual ao "talento" dele). São músicos anônimos, que na maioria das vezes têm um talento mil vezes maior que certos "músicos" de araque que andam por aí perturbando, repetindo frases (porque não têm capacidade pra criar uma letra de música melhor e que valha alguma coisa) que fazem apologia ao sexo e às drogas, e arrastando multidões (o que prova que voz do povo NÃO é voz de Deus). Conheci um cara que enquanto assistia Joe Satriani, tocava junto em sua guitarra, fazendo exatamente os mesmos solos do mestre. A vantagem da música é esta: Você não precisa nem de palco e nem de plateia pra tocá-la de verdade e senti-la. A música é divina. Já vivemos num país onde o povo pensa que funk é música. Eu não gosto de samba, não gosto de pagode, mas valorizo e respeito caras como Zeca Pagodinho e Dudu Nobre, que quando fazem samba e pagode, sabem do que estão falando porque vivem isso, vieram da favela e falam de coisas do ambiente em que viveram. Não gosto de sertaneja, mas respeito caras como Sérgio Reis, e a velha guarda sertaneja, porque viveram no sertão e também sabem do que estão falando. Mas odeio oportunistas, como esse bando de grupos de samba e pagode, e esta infinidade de duplas sertanejas que moram em caros apartamentos nas metrópoles e vêm me falar da vida na favela, ou no campo... Pensam que compondo letras que falam de bebedeira e mulheres me convencem de que são sertanejos ou pagodeiros ou sambistas... Podem enganar os incautos e idiotas (que parecem ser em grande número) mas não a mim.
Há verdadeiros talentos ocultos por aí, tocando em garagens, em apartamentos, em escolas... Se você faz parte desta legião de músicos anônimos, parabéns pra você. Infelizmente, nascemos no país errado, ou nas regiões erradas. Mas vamos aproveitar o talento mesmo assim. Afinal, não temos palco nem plateia, mas SABEMOS tocar.
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