Em meio a tanta discussão sobre realidades paralelas, simulação e multiversos, eu gosto de pensar nos outros "eus" que estão em algum lugar vivendo uma vida diferente da minha. E gasto um bom tempo pensando em como eles reagem à sua existência, se estão melhores ou piores que eu.
Acredito que em algum lugar há um "eu" que foi pra Marinha aos dezessete anos, virou oficial, fez carreira, tem um bom apartamento próximo a uma das bases da Marinha. Viaja por aí, fala outros idiomas, tem uma família que reconhece seu esforço e o admira.
Há também um outro eu que não entrou em uma grande empresa, mas trabalha num terminal rodoviário, e mora com sua esposa numa casinha de madeira numa rua esquecida e pouco movimentada atrás de uma serraria desativada, e é feliz.
Há também (e aqui eu exagero) um "eu" que foi pra igreja católica, se tornou padre, aproveitou a oportunidade de conhecimento que a igreja pode oferecer, e estudou muito. Estudou filosofia, sociologia, teologia, história, hebraico, grego, e por seu conhecimento conseguiu trabalho em Roma. E vive lá, num apartamento pago pelo Vaticano, organizando arquivos e livros de uma biblioteca da igreja romana, e produzindo estudos sobre o cristianismo.
Há também um "eu" que se tornou professor. Um "eu" mais desinibido, com mais coragem de falar em público.
Seria bom vê-los em suas vidas, sem que soubessem. Conhecer seu dia a dia, seu trabalho, sua família, seus amigos. Será que estão contentes? Será que se tornaram arrogantes? Será que por terem vencido, vivem espalhando na internet esse discurso chato e insuportável de "cheguei aqui porque me esforcei"?
A vida é boa ou ruim? O esforço é válido? Quem venceu, se esforçou? Ou foi somente um golpe de sorte? A vida é justa?
Se essas perguntas fossem respondidas, acredito que muita coisa se esclareceria. E talvez não precisássemos de universos paralelos para que, em um deles ao menos, pudessemos vencer.
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