Submarino

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Livros e Igrejas

Existe um ponto de leitura no terminal urbano da cidade onde eu moro. É uma pequena filial da biblioteca pública, muito organizada, e, que bom, bem freqüentado. O local tem revistas e livros de literatura nacional, internacional e infanto-juvenil. No entanto, a maior, e mais movimentada estante, é a de literatura espírita. É um reflexo da sociedade brasileira. Zibia Gasparetto é best-seller e os livros espíritas pululam como salamandras mágicas numa fogueira. O que explica esse sucesso da literatura espírita?
Simples. É muito mais fácil ler um livro que te diz que você pode falar com seu ente querido que já se foi do que ler um livro que diz que para ser feliz você tem que sofrer. Eu não posso dizer que os livros espíritas são bons ou ruins, eu nunca os li, eu tampouco estou criticando-os. Eu critico a sociedade que se fecha num único ponto, normalmente o mais fácil. Quantas pessoas já leram O Senhor dos Anéis? Elas não lêem, porque é muito grande, porque não entendem. Mas é agradabilíssimo ler um romance de final feliz em que seu amado filho que morreu pode falar com você. É terrível perder um ente querido, e a hipótese de poder receber algo palpável dele é um bálsamo, um carinho, um sopro de felicidade. Isso explica não só a popularidade da literatura espírita, mas do próprio espiritismo. É semelhante à popularização das igrejas evangélicas no país, principalmente as neo-pentecostais. É mais fácil freqüentar uma igreja com musica bem cantada e um pastor bem articulado do que uma missa com um padre de fala lenta e senhorinhas cantando desafinadas cantos lentos. Não critico nem a doutrina espírita nem o método protestante. Critico as pessoas que sempre buscam o caminho mais fácil. Será que a amiga que vive lendo Zibia Gasparetto já leu O Evangelho segundo o espiritismo? Se for espírita de verdade, já leu. Se só está procurando o caminho mais fácil apenas, vai continuar na Zibia, apenas. A malicia não é de quem fala, é de quem escuta. Porque entrar na biblioteca e não mudar de estante? Por quê???? Tem uma infinidade de livros maravilhosos em todos os assuntos – inclusive no espiritismo. Mesmo não crendo nos preceitos espíritas, li O Evangelho segundo o espiritismo, e é um livro muito bom. Eu o li com a mente aberta. Mas as pessoas são levadas pelos seus preconceitos, sempre. Olham para o Harry Potter e acham que é só mais um livrinho de criança. Ou pior, acham que é um livro muito violento para uma criança. É por esses preconceitos que a moça só lê Zibia Gasparetto e similares. POR QUÊ????? É tão fácil.... mas ler uma chaprosca de 700 folhas é coisa de maluco. Ler fantasia é coisa de nerd, e assim os nichos se afinam, e como a maioria das pessoas tem preguiça de pensar, não buscam novas fontes. Continuam no espiritismo e na auto-ajuda. É como a hipocrisia que eu tinha quando dizia que não leria O Senhor dos Anéis porque já me bastava Harry Potter, ou como uma pessoa que conheci. Essa moça participava de um ctg – centro de tradições gaúchas – e não abandonaria o grupo de dança do ctg para fazer a catequese, a “escola” da religião católica. Até que um dia seus pais se converteram ao protestantismo. E, de repente, essa moça nunca mais saiu da igreja nem cortou o cabelo nem botou calças compridas. ISSO É HIPOCRISIA! Você não precisa trocar de igreja para encontrar O Grande Arquiteto do Universo. Da mesma forma, você não precisa ler apenas a Zibia. Se você realmente gosta de ler você encontrará coisas muito boas em outras estantes, às vezes até melhores.
Da mesma forma, você não precisa procurar o centro espírita para encontrar seus entes queridos que já foram. Tô falando serio. O problema é que é mais fácil ler uma carta ditada pelo seu marido que morreu a dez anos do que fechar os olhos e imaginar que conversa com ele ou com qualquer outra criatura que não está na sua frente. Tô falando sério. Isso é natural em qualquer um, em mim e em você também. É difícil falar sobre isso, porque é difícil perder alguém. Mas se você tem certas crenças e se vê desesperado sem aquela pessoa que você amava, apegue-se a suas crenças. Se você é espírita, beleza, vá em frente. Se você é católico, vá em frente também. Do seu jeito. Se você é judeu, idem. O problema não está em mudar de religião, o problema é fazer isso por conveniência, procurando o caminho mais fácil. O que serve para seu vizinho nem sempre servirá para você. Apegue-se ao seu Deus do jeito que você sempre fez, ele te consolará, sem dúvida. Mas apegue-se com fé, na coisa certa. Fé, você pode ter até no demônio. Procure a Verdade. A Verdade é única, mas existe mais de um caminho para chegar a ela – e nem sempre é o caminho que estão mostrando para você. Portanto, não seja hipócrita consigo mesmo, da mesma forma, não feche sua mente. Não siga os outros por conveniência. Siga suas convicções. Não visite sempre a estante que todo mundo diz que é a melhor. Busque sempre varias coisas. Da mesma forma que eu busquei Tolkien e Alan Kardec, busque o diferente. Mesmo com a pessoa mais diferente de você, você terá algo a aprender. Não precisa concordar com tudo que você lê. Também não precisa ler tudo. Apenas leia, busque coisas diferentes e boas. Será conhecimento. Perdoem-me se fui confusa, mas burrice e hipocrisia me deixam desgraçada da minha cabeça.


Apenas não busque a bruna surfistinha. Esse, eu te garanto que não te trará conhecimento que valha a pena.

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