Submarino

sábado, 6 de agosto de 2011

66 anos de bomba atômica

Era uma manhã como a de hoje. O dia amanheceu ensolarado, agradável e sem ventos, mas às 8h15min, um relâmpago cruzou o céu. O Sol foi ofuscado por uma gigantesca nuvem negra em um surreal formato de cogumelo, tapando todo o céu num espaço de vários quilômetros. Na flama branca de calor e fogo, milhares de seres vivos vaporizaram-se instantaneamente; outros milhares ficaram sofrendo e morrendo lentamente. A mais horrorosa era humana havia começado.
Até 3,5 quilômetros de distancia do centro da explosão, todos os edifícios foram reduzidos a destroços, e os soldados de um destacamento japonês que estivera trabalhando numa colina cavando um abrigo subterrâneo, saíram do interior da terra feridos e estonteados, com sangue a escorrer pelo rosto, costas e peitos. Agora, grandes rajadas de vento sopravam em todas as direções, aumentando e espalhando a onda de radiação, atiçando os incêndios, destruindo o que restava e envenenando mais ainda as pessoas. Uma simples centelha era suficiente para por fogo em um edifício inteiro. Mesmo a quilômetros do epicentro, a explosão cobria pessoas, animais e destroços de cinzas, cinzas de destroços e de pessoas.
Os refugiados, os mais afortunados e os moribundos foram saindo da cidade, cambaleando ou rastejando, procurando abrigo num parque dos arredores. As suas roupas converteram-se em trapos, e a pele das mãos e do rosto, visceralmente queimada, deixara-os em carne viva. Quase todos estavam mortalmente feridos, não parando de vomitar ou soltar gemidos e gritos de dor angustiantes. No parque, cerca de vinte soldados, talvez membros de uma unidade aérea, estavam deitados no chão, imóveis, simbolizando o horror. Haviam olhado para o céu no momento da explosão, e agora, caídos, continuavam olhando para cima, com os olhos vazios. Estavam mortos. Soldados que tentavam salvar as pessoas agarravam mãos e pés de debaixo dos escombros, mas na maioria das vezes viam apenas corpos despedaçando-se em suas mãos.
Os que tiveram a sorte ou o azar de sobreviver arrastavam-se como cobras semimortas pelo parque, morrendo em grupos compactos entre arbustos. Então começou a chover pesadamente, uma chuva de radiação, veneno, poluição, uma água viperina e traiçoeira, e um vento terrível soprou assustadoramente por toda a região uma tempestade de força devastadora. Arvores enormes foram arrancadas pela raiz, as mais frágeis voavam como folhas de papel. O apocalipse era real e total.
O horror durou todo dia e toda noite, e ainda o dia seguinte. A cidade, que às 8h14min da manhã, abrigava 245 mil pessoas, convertera-se, às 8h15min da manhã num intolerável necrotério para 100 mil mortos e desaparecidos, afora os moribundos. Das fumegantes ruínas, outros 100 mil haviam fugido, a maior parte levando consigo as sementes da morte prematura da radiação, do câncer, da leucemia. A era atômica nasceu ás custas da humanidade.
Essa foi sua origem, no mais verdadeiro dos sentidos, pois as bombas atômicas de 1945 foram as mais rudimentares e elementares de todas as armas da nova era da ciência nuclear. As bombas da segunda guerra mundial, as que devastaram Londres, Roterdã, Hamburgo e Berlim, tinham apenas 2000 libras de poder explosivo. A bomba atômica de 6 de agosto explodiu com a agressiva força de 20 mil toneladas de TNT. Hoje, porem, essa bomba é insignificante se comparada com bombas que podem destruir instantaneamente uma cidade do tamanho de Los Angeles. São insignificantes, da mesma forma que as bombas da segunda guerra tornaram-se insignificantes perto do horror visto pelo povo do Japão.

A tristeza tem um nome hoje.

Hiroshima.






(Fonte: O estado militarista, Fred Cook, adaptado)


Continua.

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