Submarino

domingo, 29 de novembro de 2015

Maratona Harry Potter 2015! (parte 1)



Não sei se, em 2015, ainda é necessário avisar, mas este texto tem SPOILERS da saga Harry Potter.


O segundo semestre de 2015 foi bastante tumultuado para mim, o que se refletiu na minha prolongada ausência deste blog... foram muitos transtornos na faculdade, na vida pessoal, no trabalho, que também não vêm ao caso aqui, mas também consegui realizar leituras bem importantes, que há tempos queria fazer, ou refazer... entre julho e outubro de 2015, consegui refazer a leitura de Harry Potter.


Foi uma experiência muito especial, consegui ler descompromissadamente os livros que marcaram a minha vida. Nas primeiras leituras, eu estava desbravando este mundo que estava conhecendo, depois, li com o afinco de um acadêmico, tentando descobrir entrelinhas, coisas entre os panos e as letras, tentando desvendar o quebra cabeça da vida tumultuada de Harry Potter e sua missão contra Voldemort. Desta vez, li para relembrar a história que me emocionou e que faz parte da minha vida, e vou relatar abaixo algumas impressões da minha releitura.

Entre 08/07 e 12/07 – Harry Potter e a Pedra Filosofal


Iniciei a maratona Harry Potter no início das minhas férias da faculdade, em julho, para aproveitar o menor tempo ocupada. Deu certo. Em cinco dias, conclui a leitura de Perda Filosofal, o menor. O que me marcou nessa releitura foi perceber como a escrita de J. K. Rowling era leve nos primeiros livros, uma literatura de muita qualidade, mas juvenil, onde a presença de Lord Voldemort ainda amadurecia.

Entre 13/07 e 19/07 – Harry Potter e a Câmara Secreta


Tenho um carinho especial por este livro, pois foi o primeiro que li. Mais uma vez, foi nítido compreender a leveza destes primeiros livros, e, ao mesmo tempo, a força da história de Câmara Secreta, que é quase um thriller, na busca pelo herdeiro de Salazar Slytherin.

Entre 19/07 e 22/07 – HP e o Prisioneiro de Azkaban

  
O Prisioneiro de Azkaban é o livro onde a história de Harry amadurece. Eu, pelo menos, sinto isso sempre que leio este livro. Pela primeira vez na série, eu sinto o peso da maldição que Harry carrega, sinto realmente a história sombria mas também sentimental que ela é. Harry Potter fala das magias poderosas impregnadas em nossas vidas: o amor e todos os sentimentos humanos. É uma história de fantasia mas carregada de realidade. Comecei a leitura num domingo e acabei em quatro dias... relendo Prisioneiro, fiquei na dúvida se este não é meu livro favorito da série... bem, não sei ainda... mas ou é Prisioneiro, ou Câmara.

Entre 23/07 e 29/09 – HP e o Cálice de Fogo


Então comecei O Cálice de Fogo na semana do Congresso de Educação da minha cidade, onde eu participaria como público, em virtude do meu trabalho. Na mesma semana, o clima aqui ficou maluco e em pleno inverno estávamos andando de manga curta... o resultado disso é que tive uma gripe horrível. Em pleno congresso, lá estava eu, com meu nariz em carne viva, gastando uma caixa de lenços de papel por dia, e com meu Cálice embaixo do braço. Lia no caminho, esperando as palestras começarem, no intervalo, no almoço. Mas estas leituras não ajudaram muito a adiantar o livro, primeiro porque comprei mais um no congresso, Não espere pelo epitáfio, do literalmente grande Mário Sérgio Cortella, e segundo, porque no final de julho a faculdade voltou... também acabei comprando Manuscritos do Mar Morto em agosto, e parei totalmente com Cálice para ler este. Pretendo fazer outra postagem para detalhar as leituras de 2015, mas, resumindo, tudo isso contribuiu para que eu levasse dois meses para ler um livro já li em dez dias... na verdade, outra coisa contribuiu para a demora. Cálice é o livro da série de que menos gosto. É onde as crianças definitivamente deixam de ser crianças, e toda aquela aborrecência me aborrece muito. Além disso, não me crucifiquem, mas o plot com as outras escolas é meio chato para mim. Em compensação, o final de Cálice, para mim, é o melhor dos sete. Esse é o livro da virada, onde a história realmente se adensa. Quem ainda acha que Harry Potter é série de criança – não que houvesse problema nenhum em ser! – deveria ler este livro.

Confira a segunda parte desta postagem na terça-feira, 01/12/15!

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Capitão América: Guerra Civil – saiu o trailer!

Saiu o esperado trailer de "Capitão América - Guerra Civil". Parece-me que mudaram a causa da guerra civil. No original, tudo acontece devido a um incidente onde um grupo chamado New Warriors explode uma escola durante uma luta com vilões, causando a morte de civis e crianças. Então o Congresso Americano decide votar a Lei de Registro dos Super Humanos, no que é apoiado por Tony Stark. 

O Capitão América discorda e torna-se um fugitivo, agindo na clandestinidade, sendo caçado pela SHIELD. O Homem Aranha apoia Tony Stark, mas durante o desenrolar da trama, começa a se questionar se escolheu o lado certo. As batalhas vão aumentando de intensidade e envolvem um número cada vez maior de super heróis de ambos os lados, causando a morte de vários deles... 

Melhor parar por aqui para não tirar o gostinho de novidade de quem não leu as HQs. A única certeza é de que o filme será um sucesso como foram os anteriores.

sábado, 14 de novembro de 2015

Terror em Paris

Mais de cento e vinte mortos, mais de trezentos e cinquenta feridos. Este é o saldo da nova ação terrorista que ocorreu na noite de 13 de novembro em Paris. Ato este que já foi assumido pelo Estado Islâmico. O presidente francês François Hollande, apesar da demora no tempo de resposta, ordenou o fechamento das fronteiras da França, e prometeu "reação implacável" contra os terroristas.

As ações terroristas foram bem planejadas e cronologicamente executadas. Os ataques ocorreram em locais públicos bem movimentados - bares, restaurantes, a casa de shows Bataclan e o estádio Stade de France. Oito terroristas foram mortos, sendo que sete deles detonaram os explosivos que traziam presos em seus próprios corpos antes de serem atingidos pela polícia. 

O presidente sírio teve a audácia de pôr a culpa dos ataques no governo francês, e declarou:

"As políticas equivocadas dos Estados ocidentais, particularmente a França, em relação aos eventos da região (do Oriente Médio), e o apoio de um número de seus aliados aos terroristas são razões que estão por trás da expansão do terrorismo".


O que me preocupa agora é a consequência disso tudo. A França dará uma resposta - e eu concordo plenamente - mas a Síria tem uma "queda", um "carinho" pelos terroristas, e seu presidente atual é apoiado pela Rússia. A Rússia combate o Estado Islâmico, mas não conhecemos as reais intenções do presidente da Síria. A França certamente terá o apoio da Inglaterra e dos EUA, e isso pode ser o princípio de uma guerra mundial com cunho religioso.

Cidadãos comuns, sejam eles de qualquer país, não podem ser alvos de terroristas, de fanáticos, que além de cruéis são covardes, pois matam civis desarmados, pessoas comuns, famílias inocentes, crianças e jovens. O Estado Islâmico merece uma resposta, uma resposta militar, rápida e certeira.

domingo, 8 de novembro de 2015

CBSNews apresenta Entrevista com Putin - parte 1

Em tempos onde estamos à beira da Terceira Guerra Mundial, é bom saber o que pensa o líder da maior potência militar do planeta.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A Margarida Enlatada

Esse texto de Caio Fernando Abreu é um exemplo do que a mídia faz com a maioria da população nos dias de hoje, criando em nós o desejo de ter coisas das quais não precisamos, criando necessidades que não tínhamos, fazendo que consideremos indispensável coisas que são dispensáveis. As empresas nos manipulam e nos dirigem, como a um cavalo selado.

"Foi de repente. Nesse de repente, ele ia indo pelo meio do aterro quando viu um canteiro de margaridas. Margarida era um negócio comum: ele via sempre margaridas quando ia para sua indústria, todas as manhãs. Margaridas não o comoviam, porque não o comoviam levezas. Mas exatamente de repente, ele mandou o chofer estacionar e ficou um pouco irritado com a confusão de carros às suas costas. O motorista precisou parar um pouco adiante, e ele teve que caminhar um bom pedaço de asfalto para chegar perto do canteiro. Estavam ali, independentes dele ou de qualquer outra pessoa que gostasse ou não delas: aquelas coisas vagamente redondas, de pétalas compridas e brancas agrupadas em torno dum centro amarelo, granuloso. Margaridas. Apanhou uma e colocou-a no bolso do paletó.

Diga-se em seu favor que, até esse momento, não premeditara absolutamente nada. Levou a margarida no bolso, esqueceu dela, subiu pelo elevador, cumprimentou as secretárias, trancou-se em sua sala. Como todos os dias, tentou fazer todas as coisas que todos os dias fazia. Não conseguiu. Tomou café, acendeu dois cigarros, esqueceu um no cinzeiro do lado direito, outro no cinzeiro do lado esquerdo, acendeu um terceiro, despediu três funcionários e passou uma descompostura na secretária. Foi só ao meio-dia que lembrou da margarida, no bolso do paletó. Estava meio informe e desfolhada, mas era ainda uma margarida. Sem saber exatamente por que, ficou pensando em algumas notícias que havia lido dias antes: o índice de suicídios nos países superdesenvolvidos, o asfalto invadindo as áreas verdes, a solidão, a dor, a poluição, a loucura e aquelas coisas sujas, perigosas e coloridas a que chamavam jovens. De repente, a luz. Brotou. Deu um grito:

—É isso!

Chamou imediatamente um dos redatores para bolar um slogan e esqueceu de almoçar e telefonou para suas plantações e mandou que preparassem a terra para novo plantio e ordenou a um de seus braços-direitos que comprasse todos os pacotes de sementes encontráveis no mercado depois achou melhor importá-las dos mais variados tamanhos cores e feitios depois voltou atrás e achou melhor especializar-se justamente na mais banal de todas aquela vagamente redonda de pétalas brancas e miolo granuloso e conseguiu organizar em poucos minutos toda uma equipe altamente especializada e contratou novos funcionários e demitiu outros e precisou tomar uma bolinha para suportar o tempo todo o tempo todo tinha consciência da importância do jogo exaustou afundou noite adentro sem atender aos telefonemas da mulher ao lado da equipe batalhando não podia perder tempo quase à meia-noite tudo estava resolvido e a campanha seria lançada no dia seguinte não podia perder tempo comprou duas ou três gráficas para imprimir os cartazes e mandou as fábricas de latas acelerar sua produção precisava de milhões de unidades dentro de quinze dias prazo máximo porque não podia perder tempo e tudo pronto voltou pelo meio do aterro as margaridas fantasmagóricas reluzindo em branco entre o verde do aterro a cabeça quase estourando de prazer e a sensação nítida clara definida de não ter perdido tempo. Dormiu.

No dia seguinte, acordou mais cedo do que de costume e mandou o chofer rodar pela cidade. Os cartazes. As ruas cheias de cartazes, as pessoas meio espantadas, desceu, misturou-se com o povo, ouviu os comentários, olhou, olhou. Os cartazes. O fundo negro com uma margarida branca, redonda e amarela, destacada, nítida. Na parte inferior, o slogan:
Ponha uma margarida na sua fossa.
Sorriu. Ninguém entendia direito. Dúvidas. Suposições: um filme underground, uma campanha antitóxicos, um livro de denúncia. Ninguém entendia direito. Mas ele e sua equipe sabiam. Os jornais e revistas das duas semanas seguintes traziam textos, fotos, chamadas:

O índice de poluição dos rios é alarmante.
Não entre nessa.
Ponha uma margarida na sua fossa.

Ou

O asfalto ameaça o homem e as flores.
Cuidado.
Use uma margarida na sua fossa.

Ou

A alegria não é difícil.
Fique atento no seu canto.
Basta uma margarida na sua fossa.



 Jingles. Programas de televisão. Horário nobre. Ibope. Procura desvairada de margaridas pelas praças e jardins. Não eram encontradas. Tinham desaparecido misteriosamente dos parques, lojas de flores, jardins particulares. Todos queriam margaridas. E não havia margaridas. As fossas aumentaram consideravelmente. O índice de alcoolismo subiu. A procura de drogas também. As chamadas continuavam:

O índice de suicídios no país aumentou em 50%.
Mantenha distância.
Há uma margarida na porta principal.

Contratos. Compositores. Cibernéticos. Informáticos. Escritores. Artistas plásticos. Comunicadores de massa. Cineastas. Rios de dinheiro corriam pelas folhas de pagamento. Ele sorria. Indo ou vindo pelo meio do aterro, mandava o motorista ligar o rádio e ficava ouvindo notícias sobre o surto de margaridite que assolava o país. Todos continuavam sem entender nada. Mas quinze dias depois: a explosão.

As prateleiras dos supermercados amanheceram repletas do novo produto. As pessoas faziam filas na caixa, nas portas, nas ruas. Compravam, compravam. As aulas foram suspensas. As repartições fecharam. O comércio fechou. Apenas os supermercados funcionavam sem parar. Consumiam. Consumavam. O novo produto: margaridas cuidadosamente acondicionadas em latas, delicadas latas acrílicas. Margaridas gordas, saudáveis, coradas em sua profunda palidez. Mil utilidades: decoração, alimentação, vestuário, erotismo. Sucesso absoluto. Ele sorria. A barriga aumentava. Indo e vindo pelo aterro, mergulhado em verde, manhã e noite — ele sorria. Sociólogos do mundo inteiro vieram examinar de perto o fenômeno. Líderes feministas. Teóricos marxistas. Porcos chauvinistas. Artistas arrivistas. Milionários em férias. A margarida nacional foi aclamada como a melhor do mundo: mais uma vez a Europa se curvou ante o Brasil.

Em seguida começaram as negociações para exportação: a indústria expandiu-se de maneira incrível. Todos queriam trabalhar com margaridas enlatadas. Ele pontificava. Desquitou-se da mulher para ter casos rumorosos com atrizes em evidência. Conferências. Debates. Entrevistas. Tornou-se uma espécie de guru tropical. Comentava-se em rodinhas esotéricas que seus guias seriam remotos mercadores fenícios. Ele havia tornado feliz o seu país. Ele se sentia bom e útil e declarou uma vez na televisão que se julgava um homem realizado por poder dar amor aos outros. Declarou textualmente que o amor era o seu país. Comentou-se que estaria na sexta ou sétima grandeza. Místicos célebres escreviam ensaios onde o chamavam de mutante, iniciado, profeta da Era de Aquarius. Ele sorria. Indo e vindo. Até que um dia, abrindo uma revista, viu o anúncio:

Margarida já era, amizade.
Saca esta transa:
O barato é avenca.


Não demorou muito para que tudo desmoronasse. A margarida foi desmoralizada. Tripudiada. Desprestigiada. Não houve grandes problemas. Para ele, pelo menos. Mesmo os empregados, tiveram apenas o trabalho de mudar de firma, passando-se para a concorrente. O quente era a avenca. Ele já havia assegurado o seu futuro — comprara sítios, apartamentos, fazendas, tinha gordos depósitos bancários na Suíça. Arrasou com napalm as plantações deficitárias e precisou liquidar todo o estoque do produto a preços baixíssimos. Como ninguém comprasse, retirou-o de circulação e incinerou-o.

Só depois da incineração total é que lembrou que havia comprado todas as sementes de todas as margaridas. E que margarida era uma flor extinta. Foi no mesmo dia que pegou a mania de caminhar a pé pelo aterro, as mãos cruzadas atrás, rugas na testa. Uma manhã, bem de repente, uma manhã bem cedo, tão de repente quanto aquela outra, divisou um vulto em meio ao verde. O vulto veio se aproximando. Quando chegou bem perto, ele reconheceu sua ex-esposa.

Ele perguntou:

– Procura margaridas?

Ela respondeu:

– Já era.

Ele perguntou:

– Avencas?

Ela respondeu:

– Falou."

Abreu. Caio Fernando. A Margarida Enlatada.
In: O Novo Conto Brasileiro. Rio de Janeiro,
1985. p. 194 -197