1. Introdução
A matemática financeira, enquanto disciplina, possui alguns desafios para o educando e educador no processo ensino-aprendizagem devido à necessidade de interpretação de fatos para obtenção de dados, aplicação e desenvolvimento de fórmulas matemáticas. Além desta problemática, a matéria em questão torna-se pouco atrativa quando não relacionada com a prática do dia-a-dia. (...) Desta forma deve-se evidenciar a importância da matemática financeira para o dia-a-dia das pessoas e das empresas, e como ela pode ser trabalhada de tal sorte que amplie o interesse dos estudantes e professores pela disciplina em questão.
2. Por que estudar Matemática Financeira?
Primeiramente, antes de explicar os porquês do estudo da matemática financeira e sua importância para vida cotidiana do cidadão e das corporações, há necessidade de se definir o que vem a ser este ramo de matemática amplamente utilizada no mercado. Para Assaf Neto (1998, p.13) matemática financeira é o "estudo do dinheiro no tempo, ao longo do tempo". Segundo Zentgraf (2003, p.2), além de estudar os aspectos temporais do dinheiro, tais estudos objetivam estabelecer relações entre quantias monetárias expressas em datas diferentes. Entretanto, a matemática financeira pode ser definida de forma mais simplificada sendo a aplicação da matemática para decisões gerenciais a respeito de operações financeiras. Para que as operações financeiras sejam executadas, faz-se necessário a aplicação de cálculos adequados, sendo que o estudo desses cálculos é o objeto de estudo da matemática financeira.
Objetivando minimizar custos, reduzir riscos e incertezas, gerados pelas constantes mudanças econômicas intensificadas pela sofisticada tecnologia presente em todos os mercados mundiais, os agentes econômicos buscam mecanismos que lhes proporcione uma maior segurança e fundamentação para tomada de decisão, favorecendo a maximização de resultados.
Os cálculos financeiros são ferramentas essenciais no processo de tomada de decisão e na gestão financeira de empresas e pessoas. O desconhecimento desse ferramental pode resultar em grandes perdas financeiras. Desta forma a matemática financeira passa a ser a principal ferramenta para mensurar o custo do dinheiro no tempo, seja este custo relacionado com efeitos inflacionários ou pelo custo de oportunidade e, ainda, segundo Hazzan (2001, p.1), ela "fornece instrumentos para o estudo e avaliação das formas de aplicação de dinheiro bem como de pagamento de empréstimo".
Portanto, é através da aplicação dos conceitos relacionados à matemática financeira que as decisões financeiras, desde as mais simples como as mais complexas, ficam mais claras evitando perdas monetárias, gerando o chamado: custos da ignorância da Matemática Financeira. Os custos da ignorância nesta área geralmente afetam diretamente o "bolso" dos diferentes agentes econômicos, causando prejuízos às empresas, comprometimento da renda, demissões de gerentes administrativos, problemas judiciais, violação do código de defesa do consumidor, multas e punições legais, comprometimento do bem-estar familiar, dentre outros.
Como todos os agentes econômicos estão expostos aos riscos de mercado ao realizarem operações financeiras, torna-se vasta a área de abrangência da Matemática Financeira, sendo que praticamente todos os agentes econômicos ativos necessitam desta ferramenta para tomada de decisão, das mais simples às mais complexas, podendo citar como principais usuários os consumidores, empresas, consultores, peritos financeiros, gestores em geral, etc.
Entretanto, independente do grau de complexidade uma determinada situação ou contrato financeiro, de acordo com Silva (2002, p.7), com a "utilização da matemática financeira o grau de incerteza para tomada de decisão é reduzido, assim torna-se possível à escolha de alternativas mais rentáveis com maior grau de segurança e um baixo coeficiente de erro na decisão tomada". Porém, não basta saber matemática, ou as fórmulas utilizadas pela matemática financeira e comercial, e sim a aplicabilidade de tais fórmulas e conceitos matemáticos, e a interpretação dos resultados gerados tomando decisões acertadas diante da bagagem de informações obtidas ou geradas a partir de tais aplicações.
3. Deficiências, dificuldades e desafios do ensinar e aprender matemática financeira
Os problemas gerados pela má interpretação de informações, a dificuldade de se aplicar às fórmulas matemáticas correta, e ainda, a deficiência existente em efetuar cálculos matemáticos simples, como por exemplo, frações, potências, proporcionalidades, cálculos percentuais, dentre outros, tem sido o grande desafio do aprender e ensinar matemática financeira.
Desta forma o educador deve, primeiramente, atentar para a capacidade de interpretação dos educandos, auxiliando os mesmos a compreender e extrair as informações financeiras existentes em um estudo de caso ou situação problema. Posteriormente, auxiliando-os a utilizar as fórmulas matemáticas corretas para resolução do caso e, em seguida, acompanhar o desenvolvimento de tais fórmulas de tal sorte que o estudante alcance o resultado correto.
Acredita-se que o problema de interpretação dos casos financeiros a serem resolvidos, através da aplicação de matemática financeira, pode ser minimizado ou totalmente sanado através de muitas leituras, e o mesmo vale para aplicação e desenvolvimento matemático das fórmulas. Porém, o maior desafio de todos é despertar no estudante a relevância de matemática financeira em sua aplicação prática, bem como a interpretação dos resultados, ou seja, o que significa o resultado obtido após a resolução de um problema financeiro e quais as decisões que devem ser tomadas. Porém, o sistema educacional atual não foi projetado para gerar tomadores de decisão, e sim pessoas operacionais, desta forma há de se desenvolver métodos objetivando desenvolver a característica de gestor decisor nos alunos através de estudo de casos práticos. Atualmente existem calculadoras financeiras e planilhas eletrônicas, como é o caso do Excel do pacote Office for Windows que resolvem todo e qualquer problema de matemática financeira, porém, para que isto ocorra, é preciso que o usuário saiba trabalhar com todas as informações disponíveis e necessárias para alcançar o resultado desejado. Porém de nada adianta o resultado se o estudante não sabe interpretar este resultado e tomar decisões baseadas nos valores obtidos.
Conseqüentemente, os professores e as instituições de ensino devem trabalhar os alunos, não só na aplicação da matemática pura, como também na análise e interpretação de resultado, e ainda na tomada de decisão, bastando para isso trabalhar com estudo de casos durante o processo ensino-aprendizagem. Recomenda-se para isso a utilização de casos reais do mercado financeiro, do dia-a-dia dos alunos, análise de panfletos de lojas calculando juros e taxas efetivas, avaliando as melhores aplicações e fonte de recursos em instituições financeiras. Visitas in loco de tais estudantes obtendo informações através de entrevistas com gerentes de tais instituições, simulações em sala de aula, dentre outras técnicas voltadas para o lado prático e real de mercado. (...)
Cássio Silveira da Silva